A região Norte encontrou-se, em 2007, numa situação pior do que se encontrava em 1997. Os resultados estão inseridos no estudo que mede a riqueza por habitante realizado pelo Eurostat, que foi divulgado ontem, segunda-feira, pelo Jornal de Notícias (JN).

Em dez anos, a região Norte diminuiu 3,3% no Produto Interno Bruto (PIB), registando, em 1997, 63,6% e, em 2007, 60,3%. Foi a única, na União Europeia, a apresentar um retrocesso no intervalo analisado. João Teixeira Lopes, sociólogo e docente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), aponta como principal razão o fracasso do modelo de desenvolvimento português. “No Norte estavam as indústrias de mão-de-obra intensiva, barata, pouco qualificada, nada aberta à inovação e sem qualquer tipo de valor acrescentado”, sublinha o sociólogo.

José da Silva Costa, director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), destaca, também, que “a região Norte é das regiões mais sujeitas à competição internacional” pois “especializa-se em bens transaccionáveis, bens onde a competição dos países emergentes é mais significativa”. Para o director da FEP, os maus resultados apresentados pela região acabam por ser “uma consequência das opções nacionais”.

Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto (ACP), partilha da mesma opinião de José da Silva Costa. Afirma que há, “da parte dos políticos, uma aposta contrária no Norte”, que, por isso, “não merece atenção”. Para João Teixeira Lopes, existe “uma concentração muito forte de recursos, serviços públicos e investimentos em Lisboa e Vale do Tejo”, o que explica os maus valores da região.

É preciso “apostar na região Norte”

Se, em 1997, os Açores e a Extremadura apresentavam valores mais negativos que o Norte, a verdade é que a região foi a única a chegar a 2007 pior do que o que estava dez anos antes. A somar a isto, o estudo foi feito numa altura em que a crise económica ainda não tinha atingido as regiões com mais exportação. Por isso, “não é de esperar que os resultados melhorem” nos próximos estudos, afirma José da Silva Costa.

“O Norte precisa urgentemente de novas âncoras em sectores novos que o possam favorece”, afirma o director da FEP.

“Se tivéssemos tido políticas públicas redistributivas e correctivas nunca atingiríamos este colapso”, diz João Teixeira Lopes, ao encarar o “mau cenário” que o Norte está a atravessar. Para o futuro, o sociólogo refere que é “fundamental um conjunto de políticas públicas, inteligentes, articuladas e inovadoras, para o salvar o Norte”. Afinal, “se não se salva o Norte, não se salva o país.”

João Teixeira Lopes afirma que é preciso “navegar com vistas largas”, “criando laços fortes com a Galiza”, apostando na “qualificação do tradicional”, sem desperdiçar o potencial do Norte. “A Universidade do Porto, por exemplo, tem dos melhores centros de investigação”, sublinha.