Os cortes no rating português da agência de notação financeira Standard and Poor’s (S&P) fizeram correr muita tinta na imprensa transnacional. Vários dirigentes políticos chegaram mesmo a falar em “ataque especulativo” e, quarta-feira, o primeiro-ministro português e Pedro Passos Coelho reuniram-se, a pedido do presidente do PSD, em São Bento, para debater medidas de actuação.

A imprensa europeia nao descurou o tema e, de uma maneira geral, todos os jornais abordaram o assunto da crise financeira portuguesa. Muitos órgãos de comunicação falam num “contágio grego” às bolsas europeias e mundiais, outros fazem a simples questão: “Será Portugal o próximo país a pedir ajuda à União Europeia?”

A imprensa espanhola

O “El País” explica, num editorial publicado quarta-feira, que os investidores e analistas financeiros têm o “convencimento profundo” de que o crash da bolsa grega está a afectar as bolsas europeias e que “nem Portugal, nem Espanha estão a tirar as lições devidas do desastre” económico. O diário espanhol divulgava, na terça-feira, que a bolsa de Wall Street foi também contagiada pela situação financeira portuguesa e grega, ao fechar os mercados financeiros a perder quase 2%. A grande preocupação do momento, para Espanha, é que as agências de notação financeira voltem a cortar no rating do país. Ontem, a S&P baixou a classificação da dívida espanhola a longo prazo do nível “AA+” para a categoria “AA”.

O diário espanhol “El Mundo” faz alusão ao relatório da S&P, referindo que o défice português deverá manter-se acima das expectativas em 2013. A agência de notação financeira aponta para que a dívida pública nacional se situe nos 4,1%, enquanto que o Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), apresentado em Março pelo Governo em Bruxelas, prevê que o PIB baixe de 9,3% para 2,8% até 2013.

O jornal refere ainda que Lisboa, para combater o défice, vai “congelar os salários dos funcionários”, “adiar as grandes obras” do estado e “vender empresas públicas”.

A imprensa britânica

O “The Guardian” defende que Portugal tem sido amplamente considerado como “o país mais propenso a sofrer com o alastramento do endividamento grego”. Segundo o diário, os investidores classificam a dívida lusa como a “oitava mais arriscada do mundo, pior do que a do Líbano ou a da Guatemala.”

O “Times Online” divulga que economistas, políticos e comentadores não acreditam que “Portugal esteja a seguir a Grécia em direcção ao lamaçal económico”. Em entrevista ao diário britânico, Jürgen Stark, membro executivo do Banco Central Europeu (BCE), explicou que “não há comparação possível entre as situações” dos dois países.

Numa outra notícia, o “Times” avança que o risco da “infecção grega” e os cortes avaliativos no rating português e grego levaram muitos investidores a procurarem “abrigos financeiros mais seguros”, o que originou a correria aos fundos ingleses, alemães e norte-americanos.

A agência de notícias Reuters perguntava esta manhã: “Será Portugal a próxima Grécia?”. Vários analistas consultados pela agência afirmam que Portugal deve conseguir contornar o problema do endividamento público, servindo-se de um “forte programa de austeridade”. Os analistas apontam que as medidas de combate ao défice do executivo português devem passar pelo “aumento de impostos”, “reduções salariais” e “diminuição dos gastos públicos”, evitando assim recorrer a um pedido de ajuda à União Europeia (UE).

A Imprensa alemã

O “Die Welt” até já pergunta aos leitores, através de um inquérito online, se os portugueses têm ou não a sua situação financeira em controlo. O jornal adianta que a economia lusa vai estagnar no ano corrente e que, apesar da recuperação económica global, o potencial de crescimento do país continuará a ser pequeno. O “Die Welt” conclui, ainda, que “o executivo [português] pode ter dificuldades para implementar as reformas desejadas”, já que, quanto a questões económicas, pode ficar em minoria no parlamento.

A Imprensa francesa

O “Le Monde” considera que Portugal é o elo mais fraco na Zona Euro, a seguir à Grécia. O jornal cita o economista Benjamin Carton que, em declarações à AFP, garantiu que a situação das finanças públicas em Espanha, Portugal e Irlanda era “muito melhor do que na Grécia antes da crise.” O analista remata dizendo que “os problemas estruturais” que estão a abalar a república helénica e que a obrigam a pedir ajuda internacional não existem nos outros países.