“Não é uma afronta à Igreja Católica”, explica Diogo Figueira, um dos organizadores da Associação preservativos “ao Papa”. O movimento surgiu da “chamada conversa de café” e de uma página criada na rede social Facebook, que conta actualmente com “cerca de 14 mil” fãs. A ideia passou para o terreno com a “acção de sensibilização” que vai ser levada a cabo no Porto e em Lisboa, nos dias em que o Papa visita as cidades. “Não é uma questão, de religião mas de saúde pública”, refere o organizador.

De acordo com Diogo Figueira, trata-se de “uma iniciativa baseada no respeito e no pacifismo”, por isso, “não vão ser distribuídos preservativos durante as celebrações”, nem no local das mesmas. “Não faria qualquer sentido”, explica o organizador, acrescentando que “há indicações bem claras para todos os membros de que não há qualquer reacção a provocações”. Os preservativos vão ser distribuídos juntamente com panfletos informativos “nas ruas de acesso e pontos estratégicos já definidos”.

Distribuição dos preservativos depois das celebrações

A organização conta com 250 a 300 voluntários em cada uma das cidades. Vão estar vestidos com uma t-shirt branca e com um laço vermelho, símbolo da luta contra a Sida.
Pontos de encontro:
Lisboa – dia 11, na Praça da Alegria, das 11h00 até às 16h00.
Porto – dia 14, na Praça do Marquês, pelas 9h00, sendo que a distribuição começa às 11h00.

“Não será feita qualquer alusão ao Papa nem às declarações do mesmo relativamente ao uso do preservativo”, afirma o organizador, justificando a escolha dos dias em que o Papa visita Portugal pela “concentração de pessoas” que tal visita proporciona. “O nosso objectivo é chegar a uma população que não se consegue chegar tão facilmente nos festivais de verão ou queimas das fitas”, entende.

A questão de segurança ainda preocupa os organizadores, que não obtiveram “qualquer resposta” da PSP no sentido de “coordenar esforços”. Daí que os locais previstos para a distribuição sejam “passíveis de alteração”.

“É através da consciencialização da população católica e dos fiéis e não pelas altas patentes ou pelo Papa, que a Igreja Católica se começa a adaptar, seja daqui a dez ou cem anos”, afirma Diogo Figueira, para justificar o tipo de iniciativa que a Associação está a levar a cabo. Para Joana Silva, outra das organizadora, “a Igreja teve sempre que se adequar ao que era pedido”.

Os organizadores não escondem que, inicialmente, a associação enfrentou uma certa “resistência”, fenómeno que os chegou a “preocupar”. “No blogue tínhamos muitos comentários com um conjunto de insultos”, refere Diogo Figueira. De acordo com o organizador, a “mensagem começa a ser passada e entendida”, mesmo pela Igreja, e a iniciativa já conta com o apoio de associações como a Abraço, UMAR, OpusGay, PortugalGay ou Marcha Mundial pelas Mulheres. “As associações não dão só apoio formal como vão ter vários membros no terreno”, acrescenta.

Mesmo assim, “o mérito desta iniciativa é não ser de uma associação, mas ser composta por um conjunto de cidadãos”, o que mostra, segundo o organizador, “que a sociedade civil ainda se preocupa com estas questões”.