Nasceu de uma dissertação de mestrado e foi crescendo até ganhar membros e evoluir por si. O projecto “Não-lugares no Porto” foi criado por Vítor Tavares com propósitos académicos até se tornar numa obra contínua e interactiva de consciencialização colectiva das carências da cidade. Tudo a partir de imagens – pelo menos para já.

O projecto, diz Vítor, tem, “desde o início”, uma “missão social”, ao “propor uma mudança de percepção visual e conceptual dos espaços da cidade do Porto”. Pretende-se assim, através de imagens, “consciencializar colectivamente as pessoas sobre o real e os efectivos problema dos espaços abandonados da cidade”.

Com origens na tese de mestrado em Arte Multimédia, da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, a iniciativa evoluiu em 2006 para o projecto-site “www.nao-lugares.com“, baseando-se na conceptualização de Marc Augé, que define estes espaços como locais “de anonimato, lugares impessoais, de transição, de mobilidade”. “São espaços aos quais não são atribuídas quaisquer características de personalização.”

Fala-se em vazios urbanos e vazios humanos quando se fala em espaços abandonados na cidade. São espaços que, enquanto não-lugares, “criam uma espécie de contractualidade solitária”, acredita o mentor do trabalho. Foi esta teorização, aliada à “vontade de consciencializar colectivamente as pessoas do Porto”, que motivou a elaboração e maturação do projecto.

Propõe-se assim, por exemplo, o contraponto fotográfico entre os “espaços abandonados e os shopping centers” ou entre “espaços de mobilidade que se cruzam, como o Metro do Porto e as salas de espera do aeroporto”. O projecto tem, diz o autor, “essa vertente de comparar e reflectir sobre os vazios urbanos/vazios humanos, lugares de passagem, lugares fora do vulgar, lugares mágicos, lugares fictícios (salas de cinema), os lugares de ausência, os lugares abandonados, os lugares de fantasia”.

O projecto já foi levado ao Centro Português de Fotografia em forma de exposição e conferência e a expansão está em estado embrionário. A investigação fotográfica continua e no horizonte está até transformar a iniciativa numa tese de doutoramento, indo para além das fotografias. Vítor Tavares adianta que a esse nível terá um carácter mais interventivo, de análise científica.

Para além disso, e num futuro mais concreto, está agendada uma exposição sobre o tema na Câmara Municipal da Póvoa de Varzim que, segundo Vítor, serve o propósito de “transladar o projectos para outras cidades periféricas”.