“Como é que as cidades do futuro vão ser? Sustentáveis? Abertas a novas realidades? Tolerantes a pessoas diferentes?” – Foram estas as questões que encabeçaram o discurso do geógrafo Tom Fleming, que esteve, esta segunda-feira, na conferência “Cidades PreVisíveis”, organizadas pela Mota-Engil, na Casa de Serralves.

Os conferencistas:

Tom Fleming é considerado um guru da área das Cidades e Indústrias Criativas. Desenvolveu já vários projectos em Portugal, tendo coordenado um estudo sobre o potencial criativo da Região Norte. Está também envolvido na programação de “Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura. Daniel Innerarity é um filósofo espanhol, considerado um dos maiores pensadores europeus da actualidade. É professor na Universidade de Zaragoza e membro da Academia das Ciências e Artes de Salzburgo.

O geógrafo enfatizou a importância das pessoas nas cidades, definindo “cidades de bem-estar” como locais em que a qualidade de vida da população é assegurada antes de tudo. Espera-se assim que a cidade seja uma “plataforma para o nós”, em que os locais públicos são “cartas de amor à comunidade”.

O ponto forte da intervenção do britânico foi a evolução das cidades para o estatuto de “cidades criativas” que incorporem actividades ou negócios culturais ou criativos. Reconvertendo a herança industrial de cada cidade ao nível das infra-estruturas, pretende-se “regenerar [as cidades] através da cultura, através criatividade”.

Neste prisma, uma cidade do futuro é uma cidade em tudo aberta a novas realidades, “tolerante a pessoas diferentes”. Isto porque, “quando falamos num sítio”, diz Fleming, “falamos na cultura das pessoas mais do que na arquitectura”. “São as suas memórias, as suas aspirações” que vão definir o local. Assim, o desenvolvimento demográfico das cidades deve ter como base uma diversidade total (“Full Diversity”).

Problema das cidades contemporâneas

Daniel Innerarity apresentou o que pensa ser o principal problema das actuais cidades: a má relação com o futuro, sendo que há uma distracção colectiva para o curto prazo. O filósofo espanhol, um dos mais proeminentes da Europa actual, fala numa “tirania com o presente”, em que o poder do “agora” desvia as populações a pensar no futuro.

Esta fixação pelo presente deve-se, sobretudo, segundo o basco, a uma excessiva aceleração do quotidiano. Assim, o futuro “é difícil de prever”. Quando o ritmo abranda, “o futuro é somente a continuação do presente”.

Innerarity fala também num colonialismo temporal, em que o futuro é o “caixote do lixo do presente”. Apela então a uma consciencialização dos “actualmente vivos, actualmente soberanos” para que passem a usar o tempo como uma “propriedade colectiva e intergeracional”, em detrimento de ser olhado como uma propriedade privada que priva as futuras gerações de uma qualidade de vida aceitável.