A América Latina invadiu o Rock in Rio. Numa noite dominada pelas mulheres, tanto no público, como no palco, e apesar dos alarmismos de muitos relativamente ao sucesso do cartaz de 2010 do Rock in Rio, 81 mil pessoas rumaram à Bela Vista no primeiro dia do festival. O motivo? Para alguns, o cantor norte-americano. É esse o caso de Sónia, de 34 anos, que veio propositadamente à Cidade do Rock ver John Mayer. Mas, e apesar da predominância das mulheres (na sua maioria adolescentes), a verdade é que, pelo menos neste primeiro dia, a festa foi latino-americana, com Ivete Sangalo e Shakira a fazerem as honras da casa.

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Para onde quer que se olhe, as cores que predominam são o verde e o amarelo da bandeira brasileira, pontuado aqui e ali por bandeiras portuguesas, angolanas, colombianas e argentinas, não deixando dúvidas das artistas que mais pessoas chamaram à Bela Vista.

Mas, antes das ditas artistas, coube a Mariza, a fadista portuguesa, a tarefa de “abrir” o Palco Mundo. A actuar pela primeira vez em nome próprio no festival, Mariza é, também, a primeira fadista a subir ao palco da Cidade do Rock. Mas o seu espectáculo muito pouco teve de fado. Num esforço para se integrar no espírito do Rock in Rio (numa noite que, aliás, muito pouco destaque deu ao estilo que lhe deu nome), Mariza apareceu de vestido preto e casaco de cabedal e uma enorme vontade de fazer o público vibrar. E conseguiu. Apostando na interacção com o público, interacção essa que atingiu o apogeu durante o tema “Rosa Branca”, cantado a plenos pulmões pela audiência, Mariza conseguiu a proeza de meter miúdos e graúdos a cantar os seus fados e a seguirem-lhe cada passo.

Numa actuação enérgica, que contagiou todos os presentes e até teve direito a mergulho na multidão, a fadista juntou o inevitável fado a outros ritmos, coleccionados durante as suas viagens e compilados no álbum “Terra”. A mistura foi muito bem aceite pelos presentes, que a trataram como uma verdadeira estrela de rock, enquanto a artista saltava e cantava, impulsionada pela resposta positiva do público. “Boa noite, Cidade do Rock. Vocês são a gente da minha terra “, exclamaria Mariza antes de terminar com um dos seus temas mais conhecidos e deixar o público de boca aberta com uma interpretação (pontuada por problemas técnicos) de “Come As You Are”, dos Nirvana.

Minutos antes de subir ao palco, a fadista confessou aos jornalistas o seu nervosismo por estar prestes a cumprir um desejo antigo. “Estou muito contente por finalmente ter recebido o convite”, declara Mariza, que confessa já ter vontade de tocar no palco principal do evento há alguns anos, mas nunca ter sido convidada. Mariza volta hoje para mais um concerto na Bela Vista, desta feita no Palco Sunset, mais dado a “mash-ups” de artistas de diferentes estilos do universo musical lusófono. Por isso mesmo, Mariza garante que o concerto que partilhará com Tim “vai ser diferente” do do palco principal, pois “vai ser um concerto entre dois amigos”.

A alegria brasileira, os blues norte-americanos…

Antes de subir ao palco, e já adivinhando uma plateia recheada de conterrâneos, Ivete Sangalo, em conferência de imprensa, revelava a ligação que unia o seu país a Portugal, confessando que esta era a sua segunda casa e que “ver uma bandeira portuguesa ou brasileira num show”, para ela, “é a mesma coisa”, pois “o sentimento é o mesmo”. Quando questionada acerca da sua presença quase obrigatória no Rock in Rio e de se tornar, por isso, uma das caras da edição portuguesa do festival, a brasileira respondeu, de forma descontraída, que era mais do que isso. “Uma das caras? Eu sou a cara do Rock in Rio”, graceja.

Palco Sunset

Mas a festa da lusofonia não se fez só pelo palco principal. Depois da actuação dos Azeitonas e António Zambujo, os ritmos africanos e o hip hop português chamaram muita gente para o Palco Sunset, “culpa” de Boss AC e Yuri da Cunha, a que se seguiu OqueStrada e Segredos de Portugal. O palco “secundário” do Rock in Rio, que trocou de lugar, nesta edição, com a Tenda Electrónica (que agora ocupa o segundo auditório natural da Bela Vista), terminou os concertos às 21h00, hora em que a electrónica se começou a fazer ouvir, com os sets de diversos DJ’s nacionais e internacionais. A festa só terminaria às 4h00.

Depois de ter sido mãe há quatro meses, a energia de Ivete Sangalo não é a mesma, mas não a abandona, numa actuação que obrigou toda a gente, até mesmo os mais reticentes, a “tirar o pé do chão”. “Estou a sentir-me a mulher mais feliz do Mundo”, garantia durante o set, chamando aos fãs presentes a sua “segunda família” e piscando o olho aos de Shakira, mergulhados na multidão. Ivete terminaria uma actuação com tudo o que se esperaria dela, entre aulas de aeróbica, crianças em palco a dançar Michael Jackson, um tributo às mães portuguesas e muito, muito samba, com um desejo: voltar a ver o Rock in Rio de volta ao Brasil.

Depois de Ivete Sangalo abandonar o palco principal, foi a vez de John Mayer entreter os muitos fãs presentes. Apesar de muita gente ter aproveitado o interregno na música latina para ir jantar, uma audiência predominantemente feminina não deixou de dar as boas vindas ao norte-americano. Numa noite em que o mais parecido com rock era mesmo John Mayer, o artista não desiludiu, mas também não surpreendeu. “É bom finalmente conhecer-vos”, dizia no início do concerto, para gáudio de algumas milhares de fãs. Seguiria-se uma setlist competente, mas pouco entusiasmante (apesar de alguns solos mais bem conseguidos na guitarra), onde “Waiting on the World to Change” e “Perfectly Lonely” foram alguns dos destaques naturais. Faltou, por exemplo, o single que lhe valeu o primeiro Grammy da sua carreira: “Your Body is a Wonderland”.

… e o “furacão” colombiano

Com o final da actuação de John Mayer, esperava-se, então, pelo “furacão” Shakira, que prometia animar uma noite que já ia longa. Mas o dito “furacão” demorava a chegar… O habitual fogo de artifício, que iluminou os céus da Bela Vista antes da entrada da colombiana, deixava adivinhar um concerto bastante dinâmico, mas a espera (vinte minutos de atraso) não parece ter valido a pena, pelo menos a julgar pelas centenas de pessoas que foram abandonando o recinto mais cedo.

A colombiana começou por mostrar os seus dotes na dança do ventre para os fotógrafos, durante a primeira música, e aproveitar todas as oportunidades para mostrar os seus conhecimentos em português (do Brasil). “Estou muito feliz por estar de volta a Portugal, um país que tanto quero”, refere. “Tortura” seria o primeiro êxito da noite, tendo em “Whenever Wherever” o seu segundo momento de glória. “Underneath Your Clothes” e “She Wolf” também conseguiram arrancar aplausos do público, numa actuação que terminou com “Hips Don’t Lie”.

Shakira, apesar de ter desfilado uma enormidade de sucessos, numa setlist onde só houve espaço para um par de músicas do novo álbum, não impressionou, irritando alguns com as enormes pausas entre músicas.

O Rock in Rio continua este sábado, com João Pedro Pais, Leona Lewis, Elton John, Trovante e 2 Many DJ’s a animar o palco principal. Soulbizness & Zoey Jones, Tim & Mariza, Rui Veloso & Maria Rita, com Toni Garrido abrilhantarão o Palco Sunset Rock in Rio. A Tenta Electrónica terminará a noite com Zombies for Money, Jamie XX, Zombie Kids Feating Aqeel, Major Lazer e Drop The Lime.