“A actual ministra da Cultura abraçou esse compromisso e eu estou aqui para o cumprir”, afirmou, em entrevista ao Jornal Público, Maria João Seixas, referindo-se a uma possível Cinemateca no Porto. No entanto, a directora da Cinemateca Portuguesa, considera que tal projecto “não é uma prioridade”. “Não temos escala, nem meios para constituir um novo acervo onde quer que seja”, sublinha.

Apesar de reconhecer que o “Porto merece uma atenção particular neste capítulo”, por ser o local “onde nasceu o cinema português” e “onde vive o Papa” do cinema nacional, a directora considera que “essa atenção não pode ultrapassar os meios que o Ministério da Cultura tem”.

A ideia de criar uma cinemateca no Porto tem sido incentivada pelo Ministério da Cultura, bem como pelo anterior ministro desta pasta, Pinto Ribeiro. No entanto, já o anterior director da Cinemateca portuguesa, Bénard da Costa, se opunha ao projecto.

As reacções

Mário Dorminsky, responsável pelo festival Fantasporto “concorda” com a posição de Maria João Seixas. “O momento que o país vive não torna prioritária a construção de uma Cinemateca no Porto”, explica. O responsável, que admite ter “muita dúvidas” quanto à construção da Cinemateca, considera que esta “não é claramente uma prioridade”. “Prioridade é resolver problemas em eventos, também referidos pela directora, como é o caso do Fantasporto”, que deveria “ter um sítio fixo para que se possa realizar”.

“Há anos que defendemos que haja, no mínimo, uma delegação da Cinemateca no Porto”, explica Alexandre Alves Costa. Para o arquitecto “a cinemateca é nacional, não é uma cinemateca de Lisboa, portanto tem obrigação de ter acções descentralizadas”. Para Alexandre Alves Costa, o importante é que o pólo de cinema “desenvolva acções no Porto”, o que “não quer dizer que seja obrigatório criar uma cinemateca” na cidade.

Esta opinião é partilhada por Henrique da Silva, da produtora Riot, que considera que as declarações de Maria João Seixas são “o espelho de centralismo em que este país se encontra ao nível do audiovisual”. “Não faltam verbas para construção de outros meios audiovisuais em Lisboa e, para o resto do país, não se encontram verbas nenhumas para a cultura”. Para Henrique da Silva, a criação da Cinemateca “é essencial” e vai permitir a “mostra” de filmes “que não são de fácil acesso”.

Ricardo Leite, realizador de cinema, afirma que “compreende” que não seja prioritária a criação de uma cinemateca no Porto “numa altura em que se está cada vez mais a cortar financiamentos a várias áreas e uma das primeiras é sempre a cultura”. Contudo, não deixa de referir que, na sua opinião, “deveria ser uma prioridade”, “No entanto, já tenho visto que o Porto tem sido negligenciado noutras situações”, lamenta. Mesmo assim, acaba por confessar que compreende a decisão, embora não concorde com ela.

Já Richard Zimmler entende que “o Porto merece uma cinemateca”, pois, na cidade, “há uma certa falta de cinemas de qualidade”. “Temos vários ecrãs que mostram os blockbusters, mas temos poucos ecrãs para ver cinema europeu ou da Ásia ou da África”. Opinião partilhada por Costa e Silva, que entende que “a existência de uma cinemateca permitiria, fora do circuito comercial, a aposta e a exibição de filmes sobretudo cinematografias menos conhecidas”. Para o professor da Escola Superior de Artes do Porto (ESAP), é “uma prioridade” a criação de uma cinemateca, que é “uma aspiração de muitos anos de pessoas ligadas ao Porto”.