A Bela Vista parece outra, pintada de preto. Se anteontem a cor predominante era o cor-de-rosa, num dia dedicado às crianças, o cenário não podia ser mais diferente no domingo.

A fila lá fora ia longa, prevendo-se mais um resultado positivo na bilheteira do Rock in Rio. A realidade acabaria por se provar outra, com apenas 36 mil pessoas a escolher passar o resto do fim-de-semana na Cidade do Rock (os restantes teriam ido, porventura, apoiar a Selecção Nacional a outras paragens?). A fila, descobrir-se-ia mais tarde, resultava das medidas de controlo apertadas por parte da organização, medidas essas que não encontram paralelo nos restantes dias.

Sunset Rock in Rio termina com estrondo

Os concertos no Sunset começaram mais tarde, na esperança de acumular algum do público ainda retido à porta do recinto. Resolvido o problema inicial, foi altura de apresentar a nova vocalista dos Fingertips. A recepção não foi a melhor, ou não fosse domingo o dia do Metal na Cidade do Rock e os Fingertips a banda mais dissonante. Valeu pelo esforço e pela coragem. Seguir-se-iam os More Than a Thousand, completamente a “jogar” em casa. A banda primou, também ela, pela coragem e pela capacidade de misturar pessoas aparentemente díspares. Rui Veloso, a testar toda a sua versatilidade e a fazer jus ao título de rei português do rock, tocou duas músicas com a banda. Mas Rui Veloso não seria o único elemento “estranho” à banda que partilharia o Palco Sunset. Fábio Baptista, vocalista dos The Hills Have Eyes, também marcou presença, interpretando uma música. Finalmente, e a fechar as actuações 2010 ao pôr-do-sol, subiriam ao palco os Hail e os RAMP, também a jogar em casa na noite de todos os “metaleiros”.

O certo é que, por causa das medidas apertadas ou não, a abertura de portas aconteceu bem mais tarde que o habitual, atrasando todos os concertos cerca de 40 minutos.

Passados todos os controlos de segurança e já dentro do recinto, o público dividiu-se entre o Sunset (bastante activo neste último dia do certame), o Palco Mundo e… os brindes. Se tal facto não é novidade, com a forte adesão do público às “borlas” a se tornar quase imagem de marca do Rock in Rio, o resultado de tal vontade é que é surpreendente: ver “metaleiros”, totalmente vestidos de negro, com a habitual camisola da banda preferida e barba por fazer há muitas semanas, com uma peruca rosa choque, uns óculos “à Kanye West” amarelos, chapéu de palha e sofá insuflável vermelho debaixo do braço é, no mínimo, inesperado.

O cartaz ideal

Às 19h00, depois de recolhidos os brindes e a cerveja e depois do “aquecimento” de headbang feito no Palco Sunset, era altura de rumar ao palco principal. No “menu” estão as actuações de Soulfly, Motorhead, Megadeth e Rammstein, que compõem o cartaz mais coeso do festival.

A primeira banda já é bem conhecida dos portugueses e a empatia é mútua, sentindo-se durante a actuação do grupo liderado pelo brasileiro Max Cavalera. Durante a hora de concerto dos Soulfly, houve tempo para clássicos dos Sepultura (banda de onde o vocalista saiu em 1996), como “Roots Bloody Roots”, êxitos da banda e até para um dos filhos de Cavalera assumir o controlo da bateria.

Os Motorhead foram os senhores que se seguiram, embora por breves instantes, inicialmente. O espectáculo das lendas do rock n roll ainda mal tinha começado e foi logo inesperadamente interrompido por problemas técnicos, que impediram Lemmy Kilmister e companhia de tocarem a primeira música. Depois das devidas desculpas ao público, a festa continuou com um verdadeiro desfile rock de êxitos, como “Overkill”, “Metropolis” e o inevitável “Ace of Spades”.

De lenda vida em lenda viva, os Megadeth também não desiludiram. Dave Mustaine, o vocalista que não aposta na interacção com o público estava, até, relativamente falador. “Trust” foi o primeiro clássico a ouvir-se na Bela Vista, a que se seguiria “In My Darkess Hour”. “Tout Le Monde”, “Symphony of Destruction” e a aclamada “Peace Sells” foram as últimas músicas a ecoar na Cidade do Rock antes da grande entrada de Rammstein.

Da Alemanha… com terror pirotécnico

Rammstein, as estrelas da noite, causaram a alguns dos presentes confusão. A escolha da banda alemã para cabeça-de-cartaz de um dia de concertos que contava com Megadeth e Motorhead deixou alguns boquiabertos, mas rapidamente os Rammstein mostraram todas as razões e mais algumas para a escolha.

Muito fumo, muita pirotecnia, muitos malabarismos com fogo marcaram uma actuação muito artística (por vezes até demais) e muito ensaiada. Entre músicos que disparam fogo pela boca ou pegam fogo a um roadie/duplo, luzes verdes intermitentes, fogo de artifício a disparar de todos os lados e muito, muito headbang, esta actuação foi imprópria para cardíacos.

Depois do vocalista montar uma enorme máquina de forma fálica e despejar espuma branca e confettis pelo público em “Pussy” e de mais umas quantas centenas de euros em fogo-de-artifício serem disparadas, o concerto acaba com “Ich Will” e um “Danke Schon”, a que se seguiria um quase a medo “Muito obrigada. Nós te amamos” balbuciado pelo vocalista.

Quem lá não esteve, só poderá ver o que se passou através de fotografias tiradas do meio da multidão ou vídeos mais amadores. A banda alemã fez questão de proibir a captação de imagens e as fotografias tiradas no “fosso” do palco não poderão ser usadas “online”.

A festa continuaria durante mais algum tempo na Tenda Electrónica mas, para a maioria dos festivaleiros, o fogo-de-artifício que marcou o final do concerto, marcaria também o final de mais uma edição do Rock in Rio Lisboa. A festa continua em Madrid, onde o evento se realiza a 4, 5, 6, 11 e 14 de Junho e conta com nomes como Bon Jovi, Rihanna, Rage Against the Machine e Metallica.