Um estudo de uma equipa de investigadores do serviço de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que os doentes com doenças neuromusculares que afectam a respiração podem viajar em aviões comerciais quando correctamente ventilados através, por exemplo, de uma máscara nasal.

João Carlos Winck, líder da equipa de investigação responsável pelo estudo, entende que a importância deste estudo para a qualidade de vida das pessoas com doenças neuromusculares que afectam a respiração é importante porque lhes dá mais “segurança a viajar”. “São pessoas com deficiências importantes que têm problemas motores” e que, “antigamente, tinham sempre dificuldade em viajar”. Com este estudo, prova-se que “é possível, em segurança, que estas pessoas viajem com ventilador, desde que bem monitoradas”.

O estudo foi realizado durante um voo de duas horas entre a cidade do Porto e Barcelona, que o médico considera uma “estreia mundial” no que diz respeito ao transporte de “doentes com tão pouca autonomia respiratória”. Tal procedimento, em que participaram dois doentes neuromusculares, levou “alguns meses a preparar”, exactamente por causa da logística de preparação e de uma “lista pormenorizada” de coisas que eram necessárias para garantir a segurança dos passageiros durante a viagem. Este estudo é ímpar devido ao facto de terem conseguido efectuar um voo comercial, num avião pequeno, com sucesso e sem problemas para os doentes. Tal “nunca tinha sido demonstrado, apesar de alguns estudos que usavam simulações de voo” para tentar estudar as consequências das viagens de avião para doentes com problemas respiratórios derivados de doenças neuromusculares.

Os resultados da experiência deixaram a equipa satisfeita. “Ficamos surpreendidos porque estes doentes até passaram melhor a viagem do que nós, em termos de oxigénio”. Esta viagem foi, também, o “cumprir de um sonho” para os dois doentes envolvidos, pois nunca tinham “viajado de avião por causa dos riscos” inerentes às viagens. Por isso mesmo, João Carlos Winck considera que este foi “um pequeno passo, mas uma grande vitória para estes doentes”.

Tal estudo é importante, também, porque pode mudar a forma como as próprias companhias aéreas lidam com pessoas com doenças neuromusculares que afectam a respiração, permitindo o seu acesso a voos comerciais. É, agora, possível às companhias aéreas, “desde que informadas a tempo” de que os equipamentos de ventilação estão prontos para serem levados a bordo, “efectuar estas viagens”. “Estas pessoas merecem ter essa possibilidade”, entende João Carlos Winck.

O estudo foi publicado pelo segundo jornal científico mais importante na área da medicina respiratória mundial, o Thorax. “Foi um gozo muito grande, pois é uma revista com impacto muito grande”, esclarece o investigador.