Saídos da Escola Superior de Artes e Design (ESAD), Ricardo Magalhães e Amândio Pereira cedo se aperceberam que o mercado do design não correspondia às suas expectativas. “As oportunidades eram escassas”, recorda hoje, cerca de sete anos depois, Ricardo Magalhães. Viram que não tinham outra hipótese, senão a de arregaçar as mangas e deitar mãos ao trabalho.

Assim surgiu, inicialmente, um projecto – criado com Pedro Sousa que entretanto deixou a empresa – dedicado aos interiores de clínicas na área da Saúde. Estávamos em 2003 e nascia a Menina Design. Hoje, o grupo assumiu outras vertentes – deixou a medicina, investiu numa unidade industrial própria e apostou na originalidade dos produtos, ao “recuperar artes que estavam em desuso”, conta Ricardo Magalhães.

A Menina Design é, agora, a mulher por detrás da Boca do Lobo, empresa de mobiliário, sediada em Rio Tinto, que tem dado cartas no mercado internacional. A semana passada, o público da revista americana “Juli B” elegeu-a como vencedora do prémio Melhor Design de Produto de 2010 – não é de estranhar que a internacionalização seja uma das grandes apostas do grupo.

A ideia passa por criar peças que juntem as artes tradicionais portuguesas – a talha, a fundição, a maquetaria – a um design arrojado e único. É o caso do aparador Diamond (ver vídeo da construção), que quase poderia ser uma réplica cor-de-rosa da Casa da Música com talha dourada à mistura.

“Queremos vender uma cultura de marca e fazer disso a nossa bandeira. Fazemos peças de edição limitada, às vezes 20 unidades de cada uma, e isso faz-nos ganhar destaque.” Além disso, com a compra da fábrica em Rio Tinto, foram vários as artes típicas da zona que foram ressuscitadas.

“É muito importante a ligação com os estudantes”

No entanto, e apesar do interesse do mercado internacional, a empresa quer continuar a apostar nos talentos nacionais, ressalva Ricardo Magalhães.

“É muito importante a ligação com os estudantes. A média de idades do grupo situa-se nos 23-24 anos. Temos a consciência que queremos pessoas que queiram crescer e limpas de vícios. Que queiram vir ter connosco. Gostamos de pró-actividade.”

Se é certo que o grupo não “vai atrás” de pessoas que queiram colaborar no projecto, também não fecha as portas. A Portugal Brands, outro tentáculo do grupo, este dedicado à promoção de marcas, vai realizar agora um workshop para “os melhores alunos finalistas a estudar em Portugal nas áreas de Design, Marketing e Comunicação”, como se pode ler num comunicado [no Scribd] emitido pela empresa.

Para esta iniciativa, o grupo recebeu cerca de 200 candidaturas, mas apenas pouco mais de 30 puderam ser seleccionadas. Agora, de 12 de Julho a 17 de Setembro, os recém-licenciados vão integrar várias tarefas no grupo. O vencedor ganha um estágio INOV-Jovem, mas a ideia, enfatiza Ana Gomes, marketeer da Oficina da Marca da Portugal Brands, é que “um designer aprenda a desenhar e a comunicar o seu produto e vice-versa”.

O grupo também ganha com esta iniciativa, assegura. “Há muita gente interessada e pouca articulação com as universidades. Ao ter jovens na empresa tentamos também pôr as ideias deles em prática.” Não deixa, porém, de ser curioso que tenham sido as redes sociais as grandes responsáveis pela divulgação de iniciativas como o workshop. “Apelámos às universidades, mas a comunicação nem sempre passava.”

Ainda antes do workshop, a Boca do Lobo vai inaugurar o showroom (ver vídeo) que vão ter na exposição de design de interiores e arquitectura Oporto Show. Isto, porque do “ponto de vista comercial”, assevera Ricardo Magalhães, não lhes interessa ter uma loja aberta ao público. Apostam, por isso, em parcerias, como a que têm com o Hotel Infante Sagres, e na venda online.