Ainda “bastante chocada” com a notícia de que José Saramago morrera, Helena Vasconcelos, autora de livros e escritora no jornal Público e na revista Elle, aceitou falar com o JPN sobre o autor português.

“Conheci-o na altura em que ele conheceu a [esposa] Pilar, mas já não tinha contacto com ele há muito tempo. Desde que foi para Espanha perdemos um pouco o contacto”, explica Helena Vasconcelos. “Estou triste, estou em choque”, confessa a escritora, que já conhecia José Saramago há trinta anos.

Autor de uma obra “muito original e diferente”, Saramago marcou “os finais do século XX e o início do século XXI”. “Eu acho que ele teve importância a nível internacional, não foi só a nível nacional”, entende. “Ele não é uma ‘celebridade’ local. É muito considerado nos EUA, é muito lido em Espanha”, diz.

Como tal, a escritora entende que a importância de José Saramago para a literatura portuguesa se mede lá fora, e não no país, pois “é uma figura de referência da literatura portuguesa fora de Portugal”. “Hoje em dia, quando se fala em literatura portuguesa lá fora, fala-se em [Fernando] Pessoa, Eça de Queirós e José Saramago”, refere.

Das obras produzidas pelo escritor português, destaca “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, uma “referência muito importante” da literatura portuguesa. Outra obra incontornável do autor é “Memorial do Convento”, porque “foi o livro que o lançou”. “Não se pode apreciar a obra de Saramago sem começar mesmo pelo Memorial do Convento”, acrescenta. “Uma Viagem em Portugal” e “A Jangada de Pedra” são outras das obras que a escritora sublinha do vasto legado de Saramago.

“Pesar” marca hora de despedida de “figura de referência”

O Presidente da República, Cavaco Silva, numa comunicação dirigida à família de José Saramago e enviada aos meios de comunicação social, presta “homenagem à memória” do escritor, cuja “vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras”.

Já José Sócrates, deixando palavras de “coragem e de condolências” à família do escritor, entende que a morte de José Saramago é “uma perda para a cultura portuguesa”.

Do lado dos partidos, o Partido Ecologista Os Verdes, num comunicado enviado à comunicação social, lamenta “profundamente a morte do prémio Nobel da Literatura e vulto ímpar da cultura portuguesa e internacional”. “O PEV considera que esta é uma enorme perda para a área da literatura, uma perda que deixará mais pobre o país e o mundo”, referem.

Pedro Passos Coelho, do PSD, afirmou também que Saramago era “um dos vultos mais destacados da cultura portuguesa contemporânea” e mostrou-se profundamente consternado com a notícia. “Com o seu desaparecimento, Portugal fica mais pobre”, entende.

O Bloco de Esquerda, que partilhou no seu site o vídeo de uma entrevista feita ao autor em 2008, diz, na mesma página, “Adeus Saramago”. O líder parlamentar do partido, José Manuel Pureza, citado por diversos jornais generalistas portugueses, descreve Saramago como “um escritor sempre insubmisso” e como alguém que “combateu a cegueira social”.

Por sua vez, o Partido Comunista, numa nota do Secretariado do Comité Central do partido, divulgada no seu site, refere que a morte de José Saramago “constitui uma perda irreparável para Portugal, para o povo português, para a cultura portuguesa”. “A dimensão intelectual, artística, humana, cívica, de José Saramago fazem dele uma figura maior da nossa História”, defendem os comunistas.