É verdade, este ano o festival Trama, que se realiza de 14 a 17 de Outubro, até ao Estádio do Dragão chegou. Tudo para mostrar a dimensão coreográfica que existe no futebol. Soa mal?

Em “Furlan/numero 8”, o suíço Massimo Furlan revisita a história do futebol português. Em pleno Estádio do Dragão, o artista vai interpretar todos os passos de Madjer durante o histórico jogo do FC Porto contra o Bayern de Munique, em que o clube portuense se sagrou campeão europeu graças ao inesquecível toque de calcanhar do jogador argelino. Em simultâneo, será projectado, durante 90 minutos e com intervalo, o memorável desafio.

“Ao público é pedido que viva este momento”, apela Cristina Grande, programadora deste festival de artes performativas, organizado pela Fundação de Serralves e pelo Brrr_Live Art. É claro que a organização não espera que na sexta-feira, 15 de Outubro, 53 mil pessoas acorram ao Estádio do Dragão para festejar memórias passadas. “O campeonato não vai ficar decidido nessa noite!”, graceja o director do Museu de Serralves, João Fernandes.

A organização já fica satisfeita com mil pessoas na assistência (embora a secreta ambição seja alcançar as oito mil). Mas o importante é mesmo que cada espectador se faça acompanhar por um pequeno rádio para ouvir o relato que será emitido na frequência 102.1 FM. Os comentadores vão descrever o jogo de 1987, mas também a acção de Furlan (o novo n.º 8).

“É um exercício de memória, de revisitação de ícones. E há um questionamento: o que é que estamos a ver? É um jogo de futebol? Um espectáculo?”, sintetiza Cristina Grande. O FC Porto está, também, a preparar algumas surpresas, tendo convidado os jogadores que se gladiaram em Viena. “É uma nova cumplicidade que Serralves estabelece com o FC Porto”, garante Isabel Pires de Lima, do Conselho Cultural do clube, para quem o próprio “futebol é ele próprio uma arte performativa”. Faz, por isso, “todo o sentido que o FC Porto se enrede nesta Trama”.

Trama no Clube de Bridge e num hostel

A quinta edição do Trama não é só futebol, como ficou comprovado, esta sexta-feira, na conferência de imprensa de apresentação da programação. Mais uma vez, há “novos espaços que são apresentados” num “percurso que organiza, que conquista, que constrói diferentes reflexões” no público, ressalva Cristina Grande.

O Clube de Bridge do Porto, por exemplo, recebe, pela madrugada de 15 de Outubro, os ritmos de dança dos Dirty Honkers. O Lófte, na Rua dos Caldeireiros, serve de palco para a peça “Perform a Miracle” do duo sueco multidisciplinar The Sons of God (14 de Outubro, às 23h00) e para o projecto “J’ai Bien Détruit Ta Lettre/ Cá Destruí A Tua Carta”, performance do português António Contador, em que o artista vai ler cartas pessoais para depois as destruir em palco (às 23h30).

Christina Kubisch, “reconhecida como um dos expoentes máximos da primeira geração de artistas sonoros”, apresenta o projecto “Electric Walks Porto”. Depois de uma residência artística no Porto, a alemã descobriu uma outra cidade que agora apresenta ao público. Para descobrir este novo mundo, basta levantar os “operadores de magia”, vulgos auscultadores, no Almada Guest House e conhecer o percurso que a artista preparou. Esta iniciativa decorre durante todo o festival, das 10h00 às 24h00. “Há um mapa invisível dentro do mapa da cidade do Porto”, avisa Cristina Grande.

“The Futurist Manifesto” no arranque

The Futurist Manifesto“, ópera digital de Thomas Köner a partir do “Manifesto Futurista” de Marinetti, arranca o festival no Mosteiro de São Bento da Vitória. Aqui, diz Cristina Grande, o artista deixa a questão: “Será que o manifesto de Marinetti nos permite ver o que será o nosso futuro?” No dia seguinte, o alemão apresenta “La Barca” na Casa de Serralves.

O Trama também se associa às Comemorações do Centenário da República com a instalação performativa “23+1” de Cláudia Dias, a partir da vida e obra de Maria Veleda, símbolo da luta pelos direitos das mulheres (16 de Outubro, às 15h30, Serralves). Veleda é novamente uma inspiração no trabalho de Joana Von Mayer Trindade, apresentado, no mesmo dia, às 18h45, igualmente em Serralves.

Justin Bond, uma das vozes mais reconhecidas da cena ‘queer’ nova-iorquina, regressa a Portugal depois do fim do duo “Kiki and Herb”. O artista actua às 23h30 de sábado, 16 de Outubro, no Ateneu Comercial do Porto. Um outro regresso – mas ao país que o viu nascer – é o de Paulo Castro. O artista, que agora reside na Austrália, compõe, com o travesti madrileno Regina Fiz, a peça “Regina contra a Arte Contemporânea“. É um exercício de “humor”, garante Cristina Grande, para ver às 18h00 de domingo, 17 de Outubro, na Sala Estúdio Latino.

O Trama encerra na Praça dos Poveiros com “BumBumBox“, uma festa animada por leitores de mp3, ligados a um sistema de som portátil, que transmitem sets de “DJs amigos” com uma grande “diversidade musical”, diz a programadora.