Após quase dez anos de existência, mais alguns momentos corajosos que já viveram em busca do sonho de serem músicos, os Klepht dão-se como felizardos no que diz respeito à sua formação artística e à inovação dos meios audiovisuais. Formada em 2001, a banda desde sempre assumiu a música como algo que lhes sai da alma. Actualmente com dois álbuns lançados (Klepht – 2008 e Hipocondria – 2010), os êxitos “Por Uma Noite” e “Tudo de Novo” ditam o sucesso destes cinco jovens. Agora, livres de qualquer contrato, e depois de uma passagem pelos EUA onde gravaram o segundo trabalho de forma independente (pagando a produção do seu próprio bolso) voltam à Invicta, desta feita à Casa da Música, para fazer história com a gravação ao vivo do seu futuro DVD, em 3D.

Antes de mais, porquê o nome “Hipocondria” para este segundo álbum?

É provavelmente a explicação e a pergunta mais difícil que nós temos respondido ao longo do seu lançamento, porque não se resume apenas a um factor. No entanto, o nome surgiu depois daquele Verão da gripe A, em que estava toda a gente obcecada e maluca com a doença e que nos conseguiu pôr mesmo muito irritados. Para além disso, tínhamos visto vários artigos escritos e críticos a referir que a sociedade estava doente e hipocondríaca e achamos imensa piada à comparação. Entretanto fomos para Weed, onde gravamos o segundo álbum e onde estivemos fechados durante um mês e meio, e, a certa altura, nós já só conseguíamos duvidar de tudo e de todos. No fundo, a mensagem que queríamos passar com este nome é que maior parte dos nossos problemas está única e exclusivamente na nossa cabeça e que são ultrapassáveis!

Comparando as sonoridades e a evolução do vosso estilo musical, quais são as maiores diferenças do primeiro para o segundo álbum e qual foi a grande aposta em “Hipocondria”?

No primeiro álbum, tínhamos músicas que já tinham uns cinco ou mais anos e quando o lançamos, sentimos que teria de haver algo mais Rock. Quando começamos a trabalhar este segundo disco, desde a ida para os EUA, à composição, à parte de confecção artística, sentimos que fomos tratados duma forma que cá talvez nunca iríamos sentir. No fundo, reconheceram o que tínhamos e foi essa maneira diferente de trabalhar que resultou muito bem.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar com Sylvia Massy (produtora de nomes como Aerosmith e Prince)? Como encararam esse momento?

O Francisco Duarte enviou o nosso álbum para vários produtores internacionais só para ver o feedback e a Sylvia foi das poucas que respondeu a dizer que tinha gostado bastante e a pedir para lhe avisarmos quando quiséssemos gravar o segundo álbum. Entretanto, na altura em que estávamos a pensar no segundo disco, resolvemos mandar o material que tínhamos já preparado. Desde o início que ela se mostrou muito interessada em trabalhar connosco. Fizemos um esforço que, sinceramente, nem toda a gente o faria, pois ainda hoje estamos a pagar o disco. Mas eu acho que tudo passa por aí: temos de arriscar e não podemos esperar que as coisas aconteçam.

Vocês arriscaram ao mais alto nível. Agora que já passaram cinco meses após o lançamento, consideram que valeu a pena o esforço?

Claro. Nós achamos que foi fantástico. A experiência em si foi inacreditável, por tudo aquilo que vivemos nos Estados Unidos, não só a parte da gravação, mas também pelo ambiente, pelas viagens que fizemos por Los Angeles, São Francisco… Também por termos trabalhado com uma produtora que gostou realmente do nosso trabalho e que nos forneceu uma dedicação incrível. Mas, acima de tudo, nós queríamos crescer como pessoas, como músicos e como artistas e quem pega no primeiro álbum e no “Hipocondria”, percebe bem essa evolução.

Há algum concerto ou episódio ao longo da vossa carreira que vos deixe especial saudade?

Claramente, a nossa passagem pelos Estados Unidos foi única. Mas, certo dia, enquanto estivemos na Califórnia, chegamos a uma terra perto de São Francisco, que fica a cerca de mil metros de altura, onde habitam comunidades de portugueses. Para nós, foi uma autêntica surpresa. No meio do nada e, ainda por cima, nos EUA, encontrar pessoas da nossa cultura foi extraordinário.

Vocês vão gravar um concerto em 3D, no dia 30 de Outubro, na Casa da Música. De onde surgiu esta ideia?

Nós queríamos fazer algo diferente, um concerto que fosse especial, e que, acima de tudo, mostrasse que a banda consegue fazer eventos. Outra das razões prendeu-se com o facto de querermos, verdadeiramente, fazer um concerto próprio nesta cidade, pois sempre que vimos cá tocar é diferente.

Não ficaram reticentes por terem escolhido o Porto? Não acharam que poderiam ter menos público do que, provavelmente, em Lisboa?

Não, pelo contrário, completamente. Sempre que vimos cá sentimos que as pessoas gostam de nos receber e que vivem este mundo artístico de uma forma completamente distinta. Aliás, nunca colocamos outra hipótese para a realização deste concerto, pois consideramos que os portuenses vivem mais intensamente esta vertente cultural do que qualquer outra cidade. E mais: o facto de ser neste auditório, ou seja, na Casa da Música… fazia todo o sentido que o fizéssemos.

A venda dos bilhetes foi feita via Facebook. Correu bem a aposta na rede social?

Não temos a preocupação de inovar, apenas olhamos para o que há disponível e tentamos adaptar-nos. Existem meios para que as coisas sejam feitas de forma diferente, e foi por aí que “pegamos” no Facebook e estamos a ter bastantes adeptos. A partir do momento em que tens uma forma de chegar a mais de 24 660 pessoas, oriundas de vários pontos do país é incrível e muito mais eficaz. É mais forte do que a televisão, consegues quase de certeza ter mais audiência. E uma vez que somos uma banda independente e que passa tudo por nós, há que arranjar meios e maneiras de chegarmos aos nossos objectivos.