Por ocasião do Arraial de Engenharia, o JPN esteve à conversa com os Homens da Luta, no Pavilhão Rosa Mota. Num ambiente tanto de de descontracção, como de seriedade, a entrevista começou com o trautear festivaleiro de Neto e Falâncio, conhecidos dos portugueses pelas canções de apelo à revolução e pelos números humorísticos.

Apesar de terem por base das suas músicas e sketchs a política portuguesa e a situação actual do país, a crise não desanima o grupo. “Pessoal, está aí a crise! Viva a crise! A crise é que nos vai unir a todos!”, explica Neto. “Nós estamos animados com isso porque é nestas alturas que a malta se começa a juntar”, continua. Os “problemas em comum”, como “as SCUT ou as propinas” são, no entender destes dois “revolucionários”, o que vai unir o país.

O JPN quis explorar este aparente contra-senso e indagou o duo sobre o conceito que os Homens da Luta querem transmitir aos jovens e de que forma a sua intervenção pode ser confundida com entretenimento. De resposta pronta, o grupo disse que, através da sua música, quer “transmitir um pouco da música de intervenção” que se fazia em 1974 e 1975, música essa “de origem e tradição portuguesas, mas com uma mensagem de intervenção alegre, de protesto, mas pacífica”. Por isso mesmo, entendem, conseguem atrair os mais jovens. O sentimento é recíproco. “A gente gosta do meio académico e o meio académico gosta de nós”, afirmam.

Aproveitando a presença numa festa académica, os Homens da Luta não deixaram de apelar aos jovens para passarem à acção. “Os jovens é que fazem a revolução, não são os velhos. Os velhos fazem as reformas”, dizem. “Nós defendemos que as pessoas se podem divertir, mas também intervir, tomar acções”, entendem. “Nós fomos a favor da diversão total, mas também da luta total”, acrescentam.

Um piscar de olhos a Zeca Afonso e Peste e Sida

Sobre as influências ideológicas, o grupo responde, convicto, que não são políticos, mas sim artistas. “Não somos de esquerda, nem de direita, nem de centro. Metemo-nos entre cima e baixo, e do lado dos de baixo, os estudantes”, esclarecem. A favor “da liberdade, do amor, do protesto, da paz e da música”, não alinham com “nenhum partido”. “Nenhum gosta de nós…”, desabafam.

Voltando à música, Falâncio refere que existe uma forte ligação entre o grupo e a cultura popular de protesto, evocando a memória de referências como Zeca Afonso, António Variações, Peste e Sida e misturando, pelo meio, os nomes de Gandhi e Martin Luther King.

Em tom de mensagem, os “Homens” dizem lutar para transmitir uma ideologia de intervenção, a que se acrescenta a “utopia suprema” e uma “mensagem honesta, espontânea. “As pessoas com coração sofrem com as injustiças. A contradição dos Homens da Luta é a contradição do ser humano”, remata Falâncio.

A entrevista termina mais cedo que o previsto porque até os Homens da Luta têm de descansar antes de um concerto. Antes, porém, ficou a mensagem: “Pessoal, viva a crise! Agora é que é! Vai acontecer qualquer coisa, o pessoal já não está a aguentar mais e isto vai rebentar!”, profetizam. “Não se esqueçam: Sonhem, divirtam-se, façam amor, unam-se, sejam felizes!”