O curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (UP) recebeu, na segunda-feira, João Fernando Ramos, jornalista da RTP. Na conferência “Viver para Contar a Reportagem de Conflitos e Crises Humanitárias”, o pivot conversou sobre a sua experiência jornalística em cenário de guerra, adquirida aquando dos conflitos no Iraque.

Perante uma plateia repleta de futuros jornalistas, João Fernando Ramos alertou para as “muitas lágrimas e poucos sorrisos” que preenchem o início desta vida profissional. A palestra por ele dirigida apresentou aos estudantes diferentes atitudes a adoptar tendo como cenário uma reportagem em ambiente de conflito. “Muita adrenalina, muito esforço e porventura algum medo” são os sentimentos que, desabafa, rechearam parte do mês e meio que o jornalista passou no Médio Oriente.

“A primeira coisa a fazer”, diz o jornalista, é “obter um mapa”, pois só assim se poderá encontrar um local seguro para fugir em caso de necessidade. De seguida, identificam-se pontos de referência do local e investiga-se a história do território.
Muito importante é, também, “questionar e adequar” as atitudes tomadas face ao ambiente em que nos encontramos.

Em situação “hostil”, é importante não dar nas vistas

“Eles têm tudo o que nós temos”, diz o repórter, explicando que, em conflitos e crises humanitárias, é preciso procurar um equilíbrio que propicie o trabalho. Desse equilíbrio surge “frieza” que, apesar de “arrepiante”, permite à equipa lidar com diferentes situações, como a visita a um hospital sem condições ou encontrar uma criança a vasculhar no lixo. O importante é, refere, “não deixar cair a primeira lágrima”.

Alguns aspectos práticos da vida em conflito devem, também, ser tidos em conta. Em território “hostil”, o importante é não dar nas vistas. Como tal, diz o jornalista, coisas como a roupa, “rituais” religiosos e até mesmo os meios de transporte devem ser adaptados à nova realidade. “O carro deve ser igual ao dos restantes habitantes”, dá como exemplo.Outro aspecto a ter em conta prende-se com a alimentação, pois, devido às diferenças gastronómicas, é melhor ingerir alimentos sem condimentos. Já a água deve ser sempre engarrafada, pois “é preferível passar sede ou optar por chá” se a origem da água foi desconhecida.

O pivot da RTP aproveitou a oportunidade para relembrar os estudantes de Comunicação de que o jornalista tem de tentar se afastar do que noticia. “Nós damos notícia, não somos notícia”, exclamou. Esta regra fundamental para o jornalismo é ainda mais importante em cenário de guerra, sendo, portanto, necessário ter cuidado com o meio circundante, avaliando previamente o local para não sofrer acidentes ou correr riscos desnecessários.

Antes de terminar, João Fernando Ramos não deixou de realçar que os jornalistas não recebem apoio psicológico, nem preparação para enfrentar um conflito de grande dimensão e, por isso, é necessário ter maturidade para aguentar uma guerra. O jornalista concluiu a conferência, voltando a lembrar que, em 2009, morreram 76 jornalistas e 167 foram presos. Em jeito de recado, afirma que, em tempo de guerra, tudo pode acontecer. “Em terras de conflito, se nos apetece algo, devemos fazê-lo, pois não sabemos o que virá a seguir”, termina.