Em “Às Artes, Cidadãos!“, exposição que inaugura este sábado no Museu de Serralves, trinta artistas e colectivos olham a política e usam a arte como forma de acção. São todos da mesma geração, ou mais precisamente das gerações pós-construção do Muro de Berlim, em 1961.

O título remete à Marselhesa, ao verso onde o hino francês clama: “Às armas, cidadãos!”. O objectivo é retratar o “cruzamento entre artes e política, entre artes e activismo cívico, entre artes e cidadania”, segundo as palavras de João Fernandes, director do museu e, juntamente com o crítico de arte Óscar Faria, comissário da exposição.

O público também é convidado a participar. Aos domingos de manhã, os visitantes podem desfrutar dos os serviços de um barbeiro, residente no Porto e de origem paquistanesa, a convite do artista António de Sousa. O cabelo cortado transforma-se num complemento à instalação.

O australiano Tom Nicholson, activista da causa timorense, oferece ao público um livro de autor com as primeiras páginas de todos as obras que doou a bibliotecas de Timor destruídas durante os conflitos. Em troca, os visitantes têm que trazer livros, especialmente obras de referência, para serem também doados ao país.

Mesmo quem passa na rua não fica de fora. Virado para a Av. Marechal Gomes da Costa estará um néon com a frase “Capitalism Kills (Love)”, do colectivo Claire Fontaine.

Inauguração:

A exposição inaugura este sábado, às 22h00, com uma cerimónia em Serralves. Seguem-se performances no Maus Hábitos, o Passos Manuel e o Plano B No domingo de manhã, o Presidente da República, Cavaco Silva, visita a exposição, no âmbito das comemorações do Centenário da República.

Despertar da arte para a política

Há um simbolismo alargado na escolha de artistas nascidos só a partir de 1961, ano da construção do Muro de Berlim, que aqui representa os “muros” não físicos que separam ideias e criam conflitos dentro da mesma sociedade. O propósito é mostrar uma visão da arte contemporânea que não é alheia ao ambiente político vivido, criando consciência e levantando questões.

A exposição, que decorre até 13 de Março, retrata causas vividas nas últimas décadas. É uma visão sobre a História, sem deixar de ser actual. Portugal é também retratado por artistas nacionais como João Sousa Cardoso e Rigo 23.

Intervenção a todos os níveis

A acompanhar a exposição principal encontra-se uma outra mostra de obras de intervenção. “Nas Margens da Arte” transforma o hall do Museu numa galeria de livros, posters e outras obras que fazem referência a diferentes contextos políticos das últimas décadas. A proposta de Guy Schraenen, comissário da exposição, é que os visitantes procurem recriar e entender a mensagem no contexto em que foi criada, abstraindo-se do ambiente limpo e organizado do espaço.

A Biblioteca da Fundação de Serralves não fica de fora e apresenta a mostra “Sobre Arte, Cultura, e Política: Um Arquivo”, que conta com vários materiais impressos, como livros, brochuras e postais.