Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), a greve também se fez sentir. Esta quarta-feira, um grupo de alunos, alheio a qualquer partido político ou grupo sindical, reivindicou as políticas de austeridade tomadas pelo governo e alertou os colegas para os embaraços a que a comunidade académica está sujeita. Através de cartazes e faixas, gritos de protesto e colocando fitas sobre as portas das salas de aula, num gesto simbólico de reivindicação face aos cortes nas despesas sociais do Estado.

Ricardo Sá Ferreira, estudante da FLUP e um dos promotores do piquete, define o grupo como um conjunto de pessoas que pretende “perceber como o ensino chegou a uma fase tão degradante” e “como as actuais medidas de austeridade afectam não só os estudantes, mas também os professores e funcionários.”

Entre as principais causas da contestação, destaca-se o problema das bolsas sociais. “A FLUP é a faculdade com mais bolseiros”, salienta, havendo a possibilidade de metade dos mesmos “regredir de escalão” ou perder todas as ajudas. “Estão a brincar com o nosso futuro e nunca pagamos tanto por tão pouco”, admite.

O piquete reclama, ainda, de outro problema: a precariedade dos futuros licenciados. “Hoje não temos futuro. Somos uma geração à rasca”, continua Ricardo Sá Ferreira. “As únicas alternativas de trabalho que encontramos são precárias”.

O porta-voz do grupo garante que o piquete decorreu de forma pacífica. “Falamos com as pessoas e mostramos o nosso panfleto. Não impedimos ninguém de entrar”, diz. “As pessoas aderiram, ou não, “de livre vontade”, conclui. No final, Ricardo Sá Ferreira mostrou-se satisfeito com adesão, que foi “muito positiva”, “principalmente por parte dos estudantes”. “Andamos pelos corredores e não há quase ninguém. Nem parece uma quarta-feira, dia onde há mais aulas e mais actividades”, esclarece.

Os números da greve na FLUP

Ao JPN, o assessor da Universidade do Porto (UP), Raul Santos, diz que o número de professores e funcionários da FLUP que aderiram à greve rondou os 16,10%. Em 262 trabalhadores, 43 não se apresentaram hoje ao trabalho. O número não apresenta grande disparidade com a média de toda a UP, que deverá ter rondado os 15%.

Apesar de o número não ser elevado, Raul Santos confirma que não tem memória de uma greve com tanta adesão na UP. O serviço de cantina foi aquele que mais saiu prejudicado, já que a maior parte dos refeitórios abrangentes pela universidade não abriram as portas durante o dia de hoje.