Uma selecção mais solidária e menos presa a amarras tácticas, antes apresentando processos e ideias simples, um espírito de saber estar em grupo que por vezes faz milagres, uma forte motivação que lhe é conferida por um técnico que vem do terreno, eis como, num passe de mágica, a selecção portuguesa deixou de lado a descrença para se transformar numa outra que destila confiança e atrevimento.

Por muito que doa a alguns há muito mérito do seleccionador Paulo Bento na nova imagem da equipa. Em menos de dois meses – tomou posse a 21 de Setembro – o técnico que substituiu Carlos Queiroz voltou a fazer sorrir os portugueses, relançando a selecção na corrida por um lugar na fase final do Euro’2012.

Antes de Paulo Bento, Portugal somava dois jogos e apenas um ponto (4-4 com Chipre); com Paulo Bento a selecção ganhou os dois encontros que tinha agendado (Dinamarca e Islândia, ambos por 3-1), envolvendo-se outra vez no apuramento. Para que não restassem dúvidas relativamente à mais do que evidente transfiguração competitiva, Portugal goleou a Espanha que é apenas a campeã europeia e mundial. Não só goleou como deu um banho de bola daqueles que envergonha.

O que tem Paulo Bento que não tem Carlos Queiroz? Se os jogadores são os mesmos qual a razão ou razões para tamanha mudança de comportamento, não só em termos tácticos, como comportamentais? Talvez simplicidade nas palavras, talvez a experiência de muitos anos de balneário, talvez a sensibilidade de quem já esteve “do outro lado”.

Paulo Bento sabe como pensam os jogadores, porque foi, durante 16 anos, um deles, colocando ponto final na carreira apenas há seis anos. Tem, por isso, basicamente a mesma linguagem dos jogadores. Jogou, inclusive com e contra alguns dos actuais internacionais. Pode não ser bem falante, pode não ter ar de intelectual, mas sabe dizer as palavras certas no momento certo. Expressa-se através de palavras simples, palavras para futebolista perceber; a mensagem pode não ser rica nem retocada em termos de vocabulário, mas é apreendida de forma imediata.

Estes são sinais que chegam ao exterior, mas percebe-se pelo discurso dos jogadores que algo mudou. A selecção revela outra chama que não tinha com Carlos Queiroz. E Paulo Bento tem “culpas” no cartório.