Em época de crise procuram-se alternativas. Os preços aumentam, ao contrário dos rendimentos. Claro que neste Natal todas as alternativas são bem-vindas. As lojas de produtos em segunda mão, por exemplo, começam a ganhar um brilho particular aos olhos de muita gente. Este tipo de negócio é cada vez mais comum e, ao contrário do que se possa pensar, o mercado não está saturado.

António Gonçalves, é o proprietário da Cash&Go, na Rua do Almada, uma das maiores lojas de vendas de usados das redondezas. O tempo livre depois da reforma era muito, por isso resolveu arriscar e comprou a loja para se entreter, conta, ao JPN. No espaço, vende “de tudo”, “desde um alfinete a um armário”, mas o que lhe dá mesmo lucro é o mobiliário.

“Gosto mais de vender móveis, que é aquilo que me compensa mais. Quando vendo um móvel fico compensado por essa semana, ou seja, as despesas pagam-se com mais facilidade.”

Já Heinrich Heinz mantém, há seis anos, na Rua da Boavista, a Comshop, uma loja de compra e venda de produtos em segunda mão. Vende quase tudo: DVD, telemóveis, relógios, máquinas fotográficas. Ao contrário de António, investiu no sector porque viu na crise uma oportunidade de negócio: “As pessoas que não podem comprar novo, compram usado. Fica mais barato e têm garantia na mesma”, diz.

Negócio a melhorar em tempos de crise

Heinz encomenda produtos da Alemanha, país de onde é natural, e vende para todo o mundo, desde a Europa aos “Estados Unidos, Brasil, Angola e Nigéria”, sublinha, orgulhoso. Há pouco tempo apostou na internet e afirma que chega a vender mais na loja online do que no espaço da Boavista. Nos últimos tempos, o alemão tem visto o negócio a crescer. Todos os dias vende artigos e a procura é tanta que consegue sempre compensar o dinheiro que gasta ao comprar os pertences daqueles que lhe batem à porta.

O mesmo acontece a António, que, no entanto, prefere não ceder à tentação: “Eu não compro nada à porta, só recheios de casas. Entram aqui pessoas todos os dias, para vender principalmente ouro e telemóveis, a maioria acabados de sair das montras ou de roubar. E eu não quero ter dores de cabeça com isso.”

Foi por isso que, ao renovar a licença da loja, retirou a cláusula que permitia a venda e compra de ouro, prata e metais preciosos. Orgulha-se de ser dos poucos lojistas com “tudo em dia”: “Tudo o que está aqui é declarado à Judiciária para provar que é pago.”

Problemas à parte, António confessa que gosta de explorar a loja, mas não pretende expandir o negócio, apesar de ter armazéns cheios de coisas que não cabem na loja. O mesmo não pensa Heinz, que pretende expandir o negócio e aproveitar melhor o cenário de crise que o país atravessa. “O negócio está a melhorar. Agora estou à espera que a vizinha saia para comprarmos a loja maior aqui ao lado.”

Os pequenos furtos

Os assaltos fazem parte da realidade destes lojistas. Henrich Heinz abriu a loja no Porto ao ver-se obrigado a vender o espaço que tinha em Vila Nova de Gaia, onde já tinha sido assaltado diversas vezes. “Nesta aqui ainda só fui assaltado quatro vezes, até hoje”, conta, aliviado. Afinal, para Heinz, quatro assaltos em seis anos até nem é mau de todo.

Dos furtos também se queixa António Gonçalves. “Acabaram de me roubar aqui uma peça de dez euros. Estou doente por causa disso. Há bocadinho estava ali, entrou uma senhora aqui e levou-me a peça. As pessoas entram aqui e nem dizem ‘bom dia’ ou ‘boa tarde’; eu já sei que vão levar qualquer coisa, todos os dias.”