O Sport Comércio e Salgueiros é um dos clubes históricos do futebol português, mas não joga a 1.ª Divisão há oito anos e não tem equipa profissional há seis. Depois de quase quatro anos de interregno do futebol sénior, o “Salgueiral” voltou em 2008, recomeçando do zero na 2.ª Divisão Distrital da Associação de Futebol do Porto, com um novo símbolo (a fénix) e um nome renovado: Sport Clube Salgueiros 08, em virtude da velha denominação, Sport Comércio e Salgueiros, ainda estar presa pelas dívidas que minaram o clube.

Paulo Rafael Ribeiro, presidente-adjunto do clube, lembra que o essencial em 2008 era “mostrar que o Salgueiros não tinha morrido”, mas o sucesso ultrapassou as melhores expectativas. No primeiro ano, o clube venceu a 2.ª Divisão Distrital, e, no ano seguinte, voltou a subir na 1.ª Distrital, como 4.º classificado. Mais do que isso, o emblema de Paranhos conseguiu proezas bem maiores do que as desportivas: chegou a jogar para mais de quatro mil espectadores, e, em 2009, conseguiu uma assistência média superior a duas mil pessoas por jogo, o que o colocou “como o 13.º clube do país com melhor assistência média”, diz Paulo Ribeiro.

“Se formos a três ou quatro grandes estádios nacionais, como Aveiro, Leiria ou Faro, no seu conjunto, num domingo de jogos, não têm tantos adeptos como tem o Salgueiros nos jogos que realiza”, enfatiza Lourenço Pinto, presidente da Associação de Futebol do Porto.

O sonho da 1.ª Divisão

Na época em curso, o Salgueiros disputa a Divisão de Honra da Associação de Futebol do Porto encontrando-se, à 17.ª Jornada, em 11.º lugar (classificações em pdf). Este é o último patamar antes do regresso aos campeonatos nacionais. Mesmo que longe, é inevitável que se vá idealizando a reentrada, mas o mundo salgueirista vive o momento com uma euforia contida.

Lourenço Pinto está optimista. Acredita que o regresso “é possível”. Se o Arouca, “que ainda há pouco estava nos Distritais e agora está na Honra”, conseguiu, o Salgueiros 08 também é capaz. Claro que a ascensão só faz sentido se for feita “de maneira sustentada” e respeitando as “contabilidades, os jogadores e toda a gente”. Há que prevenir que o clube “volte a cair numa situação que o iniba de competir”.

António Casanova, do jornal “A Bola”, também acredita que é “sempre possível” voltar aos velhos palcos, mas que é preciso pensar muito bem na “viabilidade” do projecto. “Se as coisas continuarem como estão, é natural que o Salgueiros possa subir mais um ou dois escalões”, considera o jornalista, que, no entanto, duvida que o clube tenha “capacidade financeira” para voltar à 1.ª divisão.

Tiago Seixas, adepto de 24 anos, também não acredita numa subida do Salgueiros no imediato. “O mais importante é criar infraestruturas e depois então sonhar”,diz, pelo que o clube deve pensar, para já, em “manter-se na divisão onde está”. Depois, será óptimo “se puder ir à 3.ª Divisão Nacional”. “Não tem condições neste momento para sonhar mais do que isso”, sublinha.

Mais céptico, Paulo Rafael Ribeiro, o presidente-adjunto que assumiu funções há cinco anos no período mais delicado de sempre, diz que a única coisa verdadeiramente determinante é consolidar o que sobreviveu do “velho” Salgueiros, como as modalidades amadoras ou o futebol jovem, antes de pensar noutros voos. Afinal, “quem não tem dinheiro, não tem vícios”.