Aulas, treinos, trabalhos, competições e exames. O dia-a-dia de um estudante que é também atleta de alta competição pode ser caótico. Não é uma tarefa fácil, exige empenho, determinação e organização, mas o gosto pela prática desportiva e a aposta na formação académica exigem sacrifícios a centenas de estudantes espalhados por todo o país.

Com 20 anos, Maria João Ferreira é estudante do 3.º ano na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) e atleta de pólo aquático há quatro anos. A jovem diz que entre a faculdade e o pólo aquático tenta sempre “aproveitar todo o tempo livre” que tem. “Habituada a um ritmo alucinante” e a dormir cerca de cinco horas por noite, garante que “não é muito difícil conciliar” as duas actividades.

Maria João diz que geralmente consegue organizar o seu tempo entre as o estudo e o pólo aquático. Em altura de exames, o estudo é realmente “mais intensivo”, mas, já que não há aulas, passa “o dia inteiro a estudar para à noite treinar”. O treino ao fim do dia é, aliás, um escape ao stress da faculdade.

Tiago Ferro é outro exemplo. Tem 22 anos, é estudante na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e pratica hóquei em patins desde os seis. O atleta diz que é importante fazer uma boa gestão das duas actividades e que tenta que os seus horários de estudo nunca coincidam com os treinos: “Se por acaso o estudo estiver a correr bem, só ao final da tarde sou obrigado a fazer aquela pausa para ir treinar.”

O estudante de engenharia diz que a prática desportiva é algo muito importante e deve ser conciliada com a faculdade, “visto que o desporto é fundamental para o bem-estar físico e a faculdade é uma peça integrante de um bom futuro”.

A reacção dos professores

Maria João acredita nos benefícios que a prática de desporto lhe traz, quer a nível físico, quer a nível psicológico, mas considera que há falta de apoios por parte do Estado em “todos os desportos que não sejam o futebol”.

A estudante diz que, apesar de não ter o estatuto de atleta de alta competição, a FEP permite algumas facilidades, como a realização de exames na época especial de Setembro (que é, geralmente, dedicada a quem tem estatuto). No entanto, o que acontece, muitas vezes, é que os próprios professores tendem a “atirar” a prática de desporto para segundo plano, não tendo por isso qualquer condescendência em relação à data de entrega de trabalhos ou à realização de exames.

Tiago Ferro diz que, apesar de ter o estatuto, não nota muitos benefícios. Aquilo que acaba por fazer é “apelar à boa vontade dos professores”, refere.

Quando o assunto é o desporto universitário, os dois jovens atletas têm uma posição semelhante. A atleta de pólo aquático não integra nenhuma equipa da Universidade do Porto, mas diz que a prática de desporto no ensino superior deveria ser mais incentivada. Para a jovem este apoio devia partir não “só por parte do Estado, mas também, e sobretudo, por parte das instituições de ensino superior”.

O atleta de hóquei em patins considera que o desporto universitário deveria “ser um exemplo para todos os jovens”, pois os estudantes que são atletas “mostram que é possível conciliar as duas coisas [desporto e faculdade] com seriedade e responsabilidade”, além de que “tiram prazer e têm bons momentos com a prática desportiva”.