Os seus heróis de infância eram os escritores. Aos 15 anos, Inês Botelho começou a esboçar aquele que viria a ser o seu primeiro livro e, consequentemente, o primeiro volume da trilogia “O Ceptro de Aerzis”. Nove anos depois, Inês Botelho é já considerada pelos críticos uma jovem referência no âmbito da literatura fantástica.

Depois de “Prelúdio”, em que muda o estilo e aposta no romance de ficção, a escritora decidiu seguir esta linha também em “O Passado Que Seremos”, a sua última obra, lançada o ano passado. O livro conta a história de Elisa e Alexandre, dois jovens que se apaixonam apesar de serem o oposto um do outro.

Perfil:

Natural de Vila Nova de Gaia, com apenas 24 anos, Inês Botelho já é autora de cinco obras: a trilogia fantástica “O Ceptro de Aerzis”, composta por “A Filha dos Mundos” (2003), “A Senhora da Noite e das Brumas” (2004) e “A Rainha das Terras da Luz” (2005), “Prelúdio (2007)” e “O Passado Que Seremos (2010)”. Licenciada em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, iniciou em 2009 um Mestrado em Estudos Anglo-Americanos. Completou também o 8.º grau de Piano e Formação Musical na Academia de Música de Vilar do Paraíso. Para além da literatura, nutre uma grande paixão pela representação, o que a levou a integrar o Grupo Juvenil de Teatro do Sporting Clube Candalense, entre 1995 e 1997, e a participar, em 2001, num dos workshops organizados pela associação “Os Filhos de Lumière”.

“A ideia base começou por ser uma relação entre dois jovens, mas eu não sou muito pessoa de romances românticos, nem de historietas de amor delico-doces; portanto, embora houvesse esse mote, nunca foi intenção explorá-lo demasiado ou fazer um livro cheio de peripécias amorosas”, explica, ao JPN.

Ao centrar-se nas vivências, nos valores e nas escolhas dos protagonistas, Inês Botelho acabou por espelhar no livro a sua própria geração, o que inicialmente a desagradou: “Queria que eles fossem o mais distante possível da minha realidade, da minha vivência diária porque tenho a ‘mania’ de que sou ficcionista e que para ser ficcionista tenho de me distanciar ao máximo.”

Porém, “a questão geracional acabou por se tornar preponderante e parte integrante e indispensável do livro”. “Hoje não o consigo imaginar sem essa questão”, confessa a autora, acrescentando que o facto de “haver dois caminhos de uma geração” também ajudou a “mostrar que não há uma única verdade certa”.

“Eu queria que eles fossem muito livres: o Alexandre é quase uma confissão, a Elisa é uma reflexão sobre ela própria, é um ‘tentar perceber'”, revela ainda Inês Botelho, justificando a sua escolha em escrever, pela primeira vez, na primeira pessoa. “Como a certa altura disse no site, é a experiência de ser a Elisa e o Alexandre que melhor caracteriza o livro: é entrar naquelas duas pessoas, ser aquelas duas pessoas, com todos os seus defeitos e virtudes”, conclui.

A jovem escritora conta também porque decidiu apostar num género literário diferente daquele a que habituou os leitores com a trilogia “O Ceptro de Aerzis”. “O mudar de género aumenta-me o leque de cenários e de possibilidades com que estou a trabalhar. Enquanto eu tiver histórias dentro dos vários géneros estarei sempre a mudar de género e a fazer diferente do que fiz anteriormente”, sublinha, até porque “mesmo dentro do fantástico” vai tentar explorar “outras estratégias narrativas”.

Quanto a projectos futuros, a escritora adianta apenas que continua a escrever: “Estou a trabalhar num novo livro, mas não digo muito mais porque eu prefiro só falar dos livros quando os tenho terminados e, acima de tudo, prefiro que os livros falem por eles.” Afinal, “a escrita é 90% de trabalho e 10% de inexplicável”.

Artigo corrigido às 14h58