O Rivoli foi, na passada segunda-feira, o palco improvável da noite de São Valentim de muitos casais. Responsáveis pela primeira parte do espectáculo, o grupo encontrou, ao entrar no Rivoli, a sala praticamente cheia, contrariamente às expectativas, tendo em conta a noite chuvosa. Composto por cinco elementos em violoncelos e um percussionista, o grupo aqueceu o teatro para o objecto de desejo do público: os Moonspell. Por entre diferentes versões de faixas como “Vampiria” e “Tenebrarum oratorium”, o conjunto manteve melodias desconcertantes e fez questão de pedir, mais que uma vez, que o público batesse palmas ao ritmo das canções. “Subjugou-se” a audiência, atenta à participação bracarense.

Sentados, mas sempre em interacção com a plateia, os rostos mostravam-se envolvidos pelo instrumental que tocavam. Os violoncelos vestiram-se, essa noite, de metal à medida que os músicos tocavam e movimentavam desenfreadamente a cabeça num headbang enérgico. Foi em “Trebaruna” que surgiu das sombras a presença aguardada do vocalista de Moonspell, Fernando Ribeiro, que se juntou a Opus Diabolicum, numa preparação para o espectáculo principal.

Quando este finalmente se inicia, o pano transparente cai e o público fica expectante. Vêem-se olhares, murmúrios e sentem-se respirações ansiosas. A transparência do pano, conjugada com ambiente a meia-luz, permite espreitar silhuetas que ajeitam o palco para o espectáculo. Viam-se sombras de cadeiras, de instrumentos e de músicos que se confundiam com projecções no pano. O suspense termina com os primeiros sons de “Handmade god”.

A música deu início àquele que foi, não só um espectáculo de luzes, mas essencialmente de sombras. O palco encontrava-se preenchido de músicos, entre eles os Opus Diabolicum, – que permaneceram até ao fim da performance – o coro Crystal Mountain Singers, uma bateria, teclado e duas guitarras. O ambiente fez-se simultaneamente intimista, escuro, mordaz e tranquilo. Destas oscilações viveu o concerto de Moonspell.

No primeiro tema, a voz de Fernando Ribeiro começa aveludada e melódica e mistura-se com os diversos elementos sonoros. Entre eles, violoncelos desembaraçados por partilharem palco com acordes de guitarra e pratos de bateria. Um cavalgar instrumental a que o vocalista juntou o som de uma pandeireta encetavam “The southern deathstyle”. No pano de fundo, corriam imagens de armas, caveiras, símbolos inflamáveis e explosões. O sangue parece percorrer todo o palco e faces dos músicos, já que a luz vermelha é predominante, ao longo desta rítmica prestação.

Performance acústica musicalmente rica

“Disappear here” gera um ambiente sublime, quando a luz do holofote se centra no vocalista dos Moonspell e as guitarras harmoniosas o acompanham. “Disappear, disappear”, murmura Fernando, enquanto a luz se acende e apaga até terminar em breu absoluto. As palmas hesitam em começar, como em quase todas as músicas, para não perturbar o clima de cristal.

Ao longo do concerto e, apesar de acústico, não se perdeu o dinamismo, para que muito contribuiu o conjunto de músicos presentes em palco. Fumos e luzes, como cálice de vinho, embebedavam o público concentrado em cada aspecto da instrumentalização. O grupo tocou êxitos de álbuns como “Sin”, “Wolfheart” e o mais recente “Night eternal”.

Em “Opium”, o público é levado a uma espécie de delírio, onde reside uma sonoridade de incrível intensidade. Os violoncelos violam a robustez auditiva com a sua suavidade, a cada novo fôlego da canção. Com uma imagem confiante, Fernando Ribeiro entoou a canção até recitar o conhecido excerto de “Opiário” da obra pessoana, acompanhado pelos sons, ora doces, ora ácidos. E, claro, o público levantou-se ao som de “Alma Mater”, considerado por muitos “o hino” da banda, naquele que constituiu o momento-elo entre banda e fãs de longa data.

Gritos e sussurros de “2nd skin” e o tema “Magdalene”, descrito por Fernando como um tema de “amor e desamor”, fortaleceram o ar visceral e ambíguo. No primeiro tema, deixaram-se cair numa autêntica “orgia” musical, ao passo que na segunda as melodias se apresentaram envolventes e harmoniosas, fruto da batida branda.

Um dos momentos mais aguardados da noite seria a participação de Sónia Tavares, vocalista dos The Gift e namorada de Fernando Ribeiro. “Mute” serviu de pretexto para um diálogo de cumplicidades, ao conjugar o perfil sombrio de Fernando Ribeiro com a silhueta feminina da cantora. O dueto funcionou bem graças à combinação de ambas as vozes graves.