“Espalho sobre a página a tinta do passado”, verso de Nuno Júdice, serviu de mote para a sexta mesa do Correntes d’Escritas. Francisco José Viegas, director da revista LER, foi um dos autores presentes na sessão, que contou também com a presença de Inês Pedrosa, Paulo Ferreira e António Figueira, estreante neste evento.

A sessão começou precisamente com uma página em branco e uma caneta. Para ilustrar o verso de Nuno Júdice, e num regresso ao passado da cultura, o autor Alberto Torres Blandina fez uma espécie de powerpoint em papel onde, com desenhos e palavras, referiu vários aspectos da arte, nomeadamente o cinema e a literatura.

Já Francisco José Viegas reflectiu sobre a importância do passado. “Quase tudo aquilo que eu escrevo tem a ver com o passado”, salientou. Contudo, o escritor não pôde deixar de realçar que em Portugal não se valoriza o que é antigo, antes se valoriza, até demais, o mais jovem. Por isso, sublinha, se deve incentivar a investigação do passado.

“Só morre quem se deixa morrer”

Um outro destaque foi a presença de Inês Pedrosa, autora do recente “Os Íntimos” e cuja obra é reconhecida em países como o Brasil. A escritora leu um texto da sua autoria e elogiou o Correntes d’Escritas, um evento “único em Portugal”. A sua intervenção contou ainda com a leitura do poema de Nuno Júdice que inclui o verso “Espalho sobre a página a tinta do passado”.

Na sua intervenção, Inês Pedrosa citou vários autores, como Clarice Lispector, Maria Teresa Horta, Ana Luísa Amaral, escritores que “vivos ou mortos, pouco importa” continuam presentes porque “só morre quem se deixa morrer”.

A sexta mesa contou também com as intervenções da escritora Maria Manuela Viana e de Paulo Ferreira. Maria Manuela Viana falou sobre os direitos das mulheres e do sofrimento de mulheres banais que “pagaram caríssimo o dever de ser afirmarem livres”.

Paulo Ferreira, estreante, um dos responsáveis pelo projecto de consultadoria editorial Booktailors, trouxe também um texto escrito. O autor falou sobre as novas tecnologias que substituem o papel e a tinta.

“Tenho visto tanta gente dar cabo da sua vida por causa de 160 caracteres que até tenho saudades dos amores que não vivi”, revelou. “Proferimos a maior das barbaridades quando seria tão mais fácil desligar o computador ou o telemóvel e dizer à pessoa o quanto a amamos”, continuou, amaldiçoando a tecnologia.

O Correntes d’Escritas tem ainda mais três mesas até ao seu encerramento e vai contar com a participação de escritores como José Jorge Letria e Luís Sepúlveda. A fechar serão homenageados o jornalista Carlos Pinto Coelho e o pintor Malangantana, ambos falecidos recentemente.