Esta quinta-feira, cerca de setenta alunos da Academia Contemporânea de Espectáculo (ACE) fizeram uma marcha entre vários órgãos de comunicação social do Porto para expor a situação em que se encontram.

A instituição não recebe ajuda financeira do Estado há algum tempo e os estudantes estão sem subsídios de alimentação, alojamento e transporte. Beatriz Frutuoso, aluna do 3.º ano, responsabiliza o Governo: “O Ministério da Educação está a ser um pouco desleixado na distribuição dos subsídios e apoios às escolas profissionais e nós estamos a sentir isso.”

A iniciativa partiu dos estudantes da ACE que, tomando conhecimento de um movimento de escolas profissionais em Lisboa, e aproveitando o impacto que este teve na comunicação social, decidiram agir de forma independente e expor o caso da instituição portuense. Num dia de escola, juntaram-se, faltaram às aulas e percorreram as ruas do Porto, passando por vários meios de comunicação social, como o Jornal de Notícias (JN) e a agência Lusa, com término na Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) na esperança de se fazerem ouvir.

Em frente ao JN, os estudantes colocaram as pastas e os livros abertos silenciosamente. “O livro é o símbolo da educação”, explica Beatriz. “Estamos aqui com os livros abertos, pois dizem-nos que é importante termos uma boa educação, mas não nos ajudam.”

Beatriz Frutuoso explica que os alunos não queriam fazer uma manifestação. “Isto não é uma manifestação, até porque não pedimos autorização. É uma chamada de atenção. Queremos que nos paguem o mais rapidamente possível”, apela a estudante. “É importante que a situação não se repita, pois pensamos nos alunos do 1.º ano, que estão a começar e que não podem passar por isto.” Beatriz Frutuoso diz que esta acção de intervenção pode não atingir os objectivos pretendidos, mas lança uma certeza: “se não resultar, vamos continuar.”

As consequências

Sem receber subsídios de transporte, alimentação e alojamento, muitos estudantes podem deixar de estudar na Academia Contemporânea do Espectáculo, admite Beatriz “Temos casos na escola que tiveram de contrabalançar se iriam estudar ou trabalhar porque não têm meios para se sustentarem. Muitos dos alunos são de fora do Porto e estão cá a viver. Há alunos que só entraram para esta escola pois sabiam da existência dos subsídios. Com os atrasos, muitos estão em risco de desistir da formação. Um já desistiu.”

Também um aluno do 3.º ano do curso Cenografia, Figurinos e Adereços Cénicos dá o seu testemunho. “Já não recebo subsídio há três meses. É crítico. Eu não sou do Porto e estou cá a morar. Tive de arranjar trabalho porque de outra forma não dá. Já pensei em desistir, mas estou no último ano e queria acabar.”

Os atrasos não afectam só os alunos. Sem receber o apoio financeiro do Estado, a ACE tem dificuldades em pagar a docentes e funcionários. Beatriz Frutuoso afiança que os professores estão solidários com os estudantes: “Estamos a faltar às aulas e estávamos com receio de que os professores não entendessem. Mas eles apoiam-nos porque também estão a a ser atingidos por estes atrasos.”

As manifestações e protestos feitos por escolas profissionais e privadas têm surgido de forma crescente desde que o Ministério da Educação decretou reformas para estas escolas, que implicam uma redução do apoio financeiro do Estado aos estabelecimentos de ensino.