“Já vi que o filme que eu queria está esgotado, ainda tem [bilhetes] para o “And Everything Is Going [Fine]?”. Sexta-feira ainda havia quem procurasse bilhetes à última da hora para ver Anthony Hopkins no seu mais recente papel, em “The Rite”. Mas Steven Soderbergh, realizador de “Sex, Lies and Videotape”, também é nome de peso para levar os cinéfilos ao Teatro Rivoli na 31.ª edição do Fantasporto.

Enquanto esperavam pelo início do filme de Soderbergh, Antónia Bastos e Pedro Ferreira contaram ao JPN que estão “presentes todos os anos, mas cada vez menos”. E não é pela crise. Pedro afirma que “o festival tem cada vez menos qualidade e cada vez mais filmes comerciais”. Antónia diz que este filme “foi a primeira escolha da noite, por causa do realizador”.

Para abrir as hostes não havia convidados, mas sim uma espécie de apresentador que começa por dizer que tem “uma boa notícia e duas más”. A boa notícia é que “o Fantasporto foi um sucesso”. Uma das más é que “está a acabar” e que tiveram um problema técnico. Em vez da versão comercial, seria exibido um “screener” (versão enviada para profissionais antes do lançamento oficial). A diferença está numa marca presente ao longo de todo o filme, como o nome da produtora. Apesar de não afectar o visionamento do filme, o público teve dez minutos para sair e pedir o reembolso.

O problema técnico arrancou risos e comentários irónicos à plateia. A história sobre como o gato do actor Spalding Gray foi atropelado por uma velhinha que dirigia um Chrysler não convenceu as cerca de vinte pessoas que saíram ao fim de cinco minutos.

Spalding Gray na primeira pessoa

O documentário é uma miscelânea de gravações em palco de Spud (alcunha de Gray) com os monólogos que o tornaram famoso. Não se percebe bem o que é realidade ou ficção e o próprio afirma que, às vezes, não sabe quando está “a falar verdade ou não”. Varia entre arrancar risos histéricos quando conta histórias de um part-time como actor porno e silenciar a sala quando fala sobre as mortes da mãe e da esposa.

Gray fala em conceito de jornalismo poético, que diz ser uma “história relativamente filtrada pela imaginação”. A maneira como Soderbergh conta a história de Spud (alcunha de Gray) assemelha-se a um retalho cronológico da vida do actor, mas sem qualquer tipo de conteúdo que não seja gravações do próprio. E se por um lado Spud diz que gosta mais de contar a sua vida do que vivê-la, também não quer ser conhecido no seu epitáfio como “um homem que só fala dele próprio”.

No fim, apenas uma pessoa começou a bater palmas. Antónia Bastos e Pedro Ferreira dizem que “não era bem o que estavam à espera”. Já Nicky Lianos considera que “foi uma maneira muito diferente de dar a conhecer uma pessoa” e que “gostou muito” do filme.

O dia foi também marcado pela exibição de sete curtas metragens portuguesas, no espaço “Panorama do Cinema Português”. A homenagem ao produtor Paulo Trancoso continuou com a exibição do filme “Duas Mulheres”, de João Mário Grilo.