Para a maioria das mulheres o Dia Internacional da Mulher já perdeu a sua importância. Actualmente são independentes e possuem, em alguns casos, cargos superiores aos seus companheiros. Para uma transexual, o Dia da Mulher significa muito mais.

Eduarda Santos, transexual com 52 anos, experiencia este dia de uma forma diferente. Sempre se sentiu como uma mulher, mas hoje sabe “que nasceu biologicamente oposta ao que devia ter sido”, conta, por e-mail, ao JPN. Fundadora da Associação Pela Identidade – Intervenção Transexual e Intersexo, admite já ter sido alvo de olhares indiscretos, razão pela qual vê o Dia da Mulher como uma data que pode atenuar as desigualdades, sobretudo para com as transexuais.

“O nível de discriminação experienciado pelas pessoas transexuais é proporcionalmente gigantesco quando comparado com outras minorias existentes a nível mundial”, ressalva.

Já a fundadora e membro da direcção do Grupo de Reflexão e Intervenção sobre Transexualidade (GRIT), Luísa Reis, dá uma outra importância a esta data. Ao viver este dia enquanto mulher, sente que a própria sociedade a aceita como tal. Vê o Dia da Mulher como um triunfo da “luta pelo reconhecimento da identidade sexual das transexuais enquanto mulheres”, embora a origem desta efeméride tenha um significado diferente.

Tal como a mulher não chegava a ser vista como mulher, não lhe sendo atribuída qualquer identidade social e sexual, também à transexual não era dado qualquer tipo de reconhecimento, diz, também por e-mail, ao JPN.

“[O Dia da Mulher] simboliza uma luta ainda mais básica”, afirma Luísa, pois, no seu entender, o significado desta data para uma transexual não tem por base uma desigualdade face ao homem, mas sim uma ausência de reconhecimento e só agora começam a ser dados em Portugal os primeiros passos para a valorizaçao dessa identidade.

Eduarda defende até a comemoração de um dia dedicado àqueles que não se consideram do sexo masculino ou feminino, mas pertencem sim a um terceiro sexo, razão pela qual “são discriminados”, considera a dirigente, em alusão à morte de Gisberta, que, aliás, a motivou para o activismo.

Um olhar para o passado

Fundadora do primeiro grupo de pessoas transexuais em Portugal, Luísa tem 30 anos. Desde os anos 70 que, a nível mundial, o dia 8 de Março representa uma homenagem ao mundo feminino, evidentemente discriminado na altura. Hoje em dia, situações semelhantes continuam a acontecer em países como a Arábia Saudita, onde as mulheres são livres para comprar maquilhagem Chanel ou roupas Ralph Lauren, mas não têm direito de voto, nem podem mostrar o rosto em público.

“É muito importante que exista um dia para nos relembrar que a elas não foi concedida a igualdade plena e que ainda temos de reflectir e trabalhar muito para que no futuro deixe de ser necessário assinalarmos o Dia da Mulher.”

Também Luísa Reis não acredita que o significado esteja ultrapassado. Se existe, “significa que as mulheres ainda não alcançaram socialmente a igualdade plena com os homens” e que “continuam a estar subrepresentadas a nível do poder político e no tecido empresarial”.

E qual é a importância e o significado do Dia da Mulher? “É uma ajuda para consciencializar as mulheres para a discriminação que sofrem diariamente com tradições que as mantêm debaixo do jugo dos homens”, diz Eduarda. Luísa concorda: “Significa que continuam a ser discriminadas no local de trabalho: não recebem o mesmo por trabalho igual, são preteridas nas promoções, vêem-lhes negadas certos lugares e profissões.”