Em tempos de incerteza, o ouro volta a ser encarado como uma protecção para os investidores. Os negócios de compra e venda de peças usadas multiplicam-se pelo país. Há cada vez mais famílias a venderem jóias de família, colecções ou simples acessórios para sobreviver ao momento apertado.

Manuel Martins, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), explica que esta aposta se deve ao facto de o ouro ser “uma mercadoria menos arriscada do que as outras alternativas disponíveis”. Em época de crise, o ouro “sempre foi visto como um activo de reserva, de última instância, que garante sempre os mínimos de estabilidade”, salienta.

Os anúncios na rua não deixam dúvidas: há cada vez mais casas dedicadas à compra e penhora de ouro e outros artigos de valor. É o caso da rede nacional de franchising Ourinvest, que abriu 26 agências só em 2010 e já conta com 45 agências em todo o país. Luiz Pereira, director geral, explica que este “é um dos poucos sectores que a crise não afectou”. Bem pelo contrário: a crise só veio contribuir para a sua expansão.

Segundo dados da Imprensa Nacional da Casa da Moeda (INCM), verificou-se um aumento de 60%, desde 2008, de utentes com matrícula nas Contrastarias. A INCM é responsável pela atribuição de licenças e fiscalização da actividade. Neste momento, existem em Portugal cerca de 5500 lojas cuja matrícula permite a compra e venda de ouro usado.

Durante a crise, o valor do ouro aumentou em 26% e, neste momento, um grama do metal precioso ronda os trinta euros. Só em Portugal, nos últimos três anos, já foram vendidos 200 milhões de euros em ouro.

Também muitas ourivesarias já alargaram o negócio à compra e venda de ouro usado. Isabel Abreu, proprietária de uma loja na Rua Alexandre Herculano, na Baixa do Porto, faz parte desse grupo. “É uma mais-valia”, admite, acrescentando que se nota “o crescimento de lojas a abrir”.

Comprar para reciclar

A necessidade de conseguir dinheiro leva as pessoas a desfazerem-se de peças de família ou de colecções. A maioria das peças segue para a fundição, onde o ouro é reciclado. Camilo Carvalho, proprietário de uma loja de antiguidades na Praça Coronel Pacheco, indigna-se com a reciclagem de certas peças, pela falta de “sensibilidade” pela arte, por parte de quem as compra. “Não são especialistas em coisa nenhuma. Eu só mando reciclar aquilo que não tem interesse”, explica.

O proprietário acredita que este negócio “está numa fase de crescimento”, mas que um dia vai desaparecer, “tal qual apareceu”. Luiz Pereira concorda, acrescentando que o crescimento não se vai manter para todos.