Entre acabar o Ensino Secundário e decidir o que fazer a seguir vai um passo. Entre os 18 e os 20 anos, a maioria dos jovens pensa mais seriamente no que fazer do seu futuro. As incertezas quanto a um curso ou a um emprego fazem com que muitas destas pessoas optem pelo recrutamento nas Forças Armadas portuguesas.

Pedro (nome fictício) decidiu seguir para a recruta, há dois anos, não “a pensar num emprego”, mas porque o pára-quedismo sempre foi a sua paixão. A opção de entrar na vida militar surgiu porque, para além do gosto, sempre lhe disseram que “havia mais facilidades em estudar”. “Podendo estar na tropa a ganhar dinheiro e a estudar ao mesmo tempo, porque não?”, questiona o jovem pára-quedista.

Com o ensino secundário inacabado, Pedro está agora a terminar Matemática, a disciplina que lhe falta. Ir para a faculdade e tirar um curso na área da Saúde, é o seu próximo passo. “Estou a trabalhar para isso”, afiança o militar. Em termos monetários, o jovem garante que “a tropa compensa, mas apenas para quem souber guardar o dinheiro”. Pedro diz ainda que tem “independência total”. “Ganha-se um pouco acima do ordenado mínimo e as despesas são quase nenhumas. Chega e sobra”, afirma.

Quando questionado sobre se vê a sua vida no exército ou fora dele, o jovem é peremptório. “Neste momento vejo o meu futuro aqui. Ainda não descobri nada em que seja mesmo bom a fazer. E gosto mesmo de andar na tropa”.

Mas nem tudo é fácil. Durante a recruta, pensou em desistir. “Era muito duro. Mas meti-me nisto, era para acabar. Não ia aguentar contar a toda a gente que tinha desistido. Nunca me lembrei do dinheiro, isso nunca foi o que me manteve aqui”, confessa.

Opção de continuar os estudos também pesa na decisão

Martim (nome fictício) ingressou no serviço militar há três anos e meio. A principal razão apontada para tal escolha foi o desejo de independência. “Queria sobretudo ganhar o meu próprio dinheiro e deixar de depender dos meus pais”, explica o jovem. No entanto, também a vontade de continuar a estudar pesou na decisão. “Tenho o 12.º ano, entrei na faculdade mas não na minha primeira opção”, pelo que preferi “entrar para o exército e estudar”, diz.

Mas, colocado longe de casa, Martim ainda não conseguiu entrar no Ensino Euperior. “Ingressei no exército como soldado, fui subindo na carreira e apercebi-me que não é isto que quero para a minha vida”. Optou, então, por estudar numa faculdade “normal”, embora admita que, a nível financeiro, o exército é sem dúvida um bom caminho: em 2010, os sargentos (o posto mais baixo) ganhavam, em média, 980 euros.

A razão por ainda não ter acedido à faculdade prende-se com colocações distantes de “grandes centros”: “os acessos não eram os mais fáceis e os transportes eram por nossa conta”, exlplica. Na sua actual colocação, embora mais perto de um pólo politécnico, Martim não encontra o curso que quer. “Não quero tirar um curso só por tirar, quero algo que me possa garantir um futuro para quando sair daqui”.