O nome Fundo Monetário Internacional (FMI) não soa estranho aos ouvidos dos portugueses. O ano de 2011 pode assemelhar-se, em muito, aos de 1978 e 1983, caso a instituição decida intervir, mais uma vez, na economia portuguesa. Passados vinte e sete anos, o país nunca esteve tão próximo do passado como hoje.

Sob o olhar atento da instituição internacional, Portugal é o retrato de um país com sérios problemas económicos sem fim à vista. Os dados revelados esta terça-feira pelo Boletim Económico de Primavera do Banco de Portugal apresentam previsões pouco animadoras para a economia do país.

De acordo com o relatório, a economia portuguesa deverá contrair 1,4 % este ano. O documento aponta para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,3%, contra os 0,6 % previstos no Boletim Económico de Inverno.

Para piorar a situação, Portugal enfrenta, a par da crise financeira, uma crise política, com o pedido de demissão de José Sócrates. O ainda primeiro-ministro apresentou na semana passada a sua demissão a Cavaco Silva, depois de ver inviabilizada a proposta do quarto Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC).

Com o país mergulhado num mar de problemas económicos e políticos, a possibilidade da intervenção do FMI em Portugal torna-se cada vez mais uma certeza. Aos que defendem que Portugal não tem outra solução senão recorrer à instituição internacional, José Sócrates deixa o alerta.

“As medidas impostas por esses programas são muito nocivas para a qualidade de vidas dos portugueses (…) apenas vai significar o desprestígio e a perda de influência do país na Europa”, referiu José Sócrates no dia em que foi reeleito secretário-geral do PS.

“Governo de José Sócrates andou a brincar com o país”

Caso venha a intervir, este ano, em Portugal, não é a primeira vez que o Fundo Monetário Internacional aplica medidas de austeridade no país. Como refere o economista João César das Neves em declarações ao JPN, apesar de se tratar de uma realidade muito distinta, existem algumas semelhanças entre a situação financeira do país em 2011 e 1983.

Para o professor universitário, Portugal “não tem outra hipótese senão recorrer à ajuda externa”, mesmo admitindo que a intervenção do FMI possa não ser suficiente. João César das Neves explica que as medidas tomadas pela instituição em países como a Grécia e a Irlanda de pouco ou nada adiantaram.

Traçando um cenário hipotético, o economista refere que as medidas tomadas pelo FMI em Portugal “não serão muito diferentes” das que foram tomadas recentemente nos países europeus. O professor universitário esclarece que “o FMI vai lidar com o facto de o Estado estar falido e estar a precisar de dinheiro. Vai por as contas em ordem, subindo impostos e baixando as despesas”.

João César das Neves não poupa críticas ao executivo de José Sócrates e afirma que a situação financeira que o país atravessa se deve à má gestão do governo demissionário. Apesar das críticas, o economista acrescenta que inviabilizar o PEC IV foi uma opção errada porque as medidas propostas pelo Programa vão acabar por ser aplicadas caso o FMI intervenha em Portugal.