“O Panorama é uma mostra selectiva mas não competitiva, reflexiva e apostada em criar espaços de discussão (virtualmente diferentes das habituais trocas de galhardetes nos sítios onde se vê e se é visto)”. É assim que Regina Guimarães, realizadora do documentário “Ângulo Morto“, caracteriza o Panorama.

O Panorama é uma mostra do documentário português que existe desde 2006, organizada pela Videoteca (Câmara Municipal de Lisboa) e pela APORDOC (Associação pelo Documentário). Esta mostra surgiu da “necessidade de haver espaços para ver e discutir o documentário português”, explica Inês Dias, programadora do Panorama 2011.

Esta mostra começou por ser bianual, mas o universo de filmes e a vontade de discutir as questões que o documentário levanta tem crescido de ano para ano. Assim, “a programação central do Panorama é uma retrospectiva do documentário feito durante um ano”, conta Inês. Em cada ano, o Panorama tem um tema central para ajudar a concentrar a reflexão e os debates que incentivam o desenvolvimento do género e dos seus criadores.

Espaço de divulgação e de reflexão

“Como se relaciona o documentário português com o mundo de hoje?” é o mote desta 5ª edição, pelo que, de alguma forma, todos os filmes respondem a esta pergunta. “O que analisamos no Panorama são as diversas formas que cada filme tem para responder, através quer das conversas que temos com os realizadores que seguem a cada sessão, quer de um debate central a pensar nesta pergunta”, diz Inês Dias.

Este ano, para criar uma relação com a pergunta central, a organização decidiu tratar um período: o cinema no pós-Abril. “Achamos que este período é paradigmático para pensar nestas questões que queremos trazer para os dias de hoje. E o papel do Panorama é levantar essas perguntas”, considera a programadora.

Regina Guimarães, realizadora de um vasto conjunto de filmes, considera que o Panorama tem sido o melhor meio possível para a divulgação dos documentários nacionais. “Claro que acontece em Lisboa, sem que se façam extensões na rede de cineteatros que o país – profundo ou litoral, interior ou superficial – possui hoje em dia”, afirma. “A verdade é que poucos artistas estão interessados em discutir o trabalho que fazem com o público”, confessa Regina, acrescentando que “os cartuchos da indignação são frequentemente gastos com a sempiterna lamentação em torno de júris, subsídios e outras tricas que cabem em pouco mais dum bairro lisboeta”.

“Os debates do Panorama são sempre pontos de paragem e de reflexão, fazendo uma análise crítica do que está a ser feito ao nível do documentário e do cinema em Portugal”, garante a organização.

João Canijo, realizador de “Fantasia Lusitana“, completa esta ideia, ao considerar que “os documentários, pela sua natureza, têm muita dificuldade em serem projectados em circuito nacional”.

“Mais e melhores filmes”

A mostra de documentário português tem contribuído para afastar a ideia de que o público português não está interessado no seu cinema. “Os realizadores sentem que têm um espaço importante para mostrar os seus filmes e aparecem cada vez mais e melhores filmes”, refere Inês Dias. Além disso, a organizadora considera que os debates do Panorama influenciam a obra documentalista nacional.

O número de espectadores tem crescido de ano para ano. Para esta 5.ª edição do Panorama 2011, de 1 a 10 de Abril, são esperados mais mil espectadores que na edição anterior.