O sismo de 11 de Março, no Japão, teve uma magnitude de 8.9 na escala de Richter. Raimundo Delgado, especialista em Engenharia Sísmica, explica que as consequências de um sismo desta intensidade têm a ver com “movimentos à superfície da terra muito intensos” e que provocam “vibrações nas construções”. Além disso, há a possibilidade de ocorrer um tsunami, que tem as suas próprias consequências quando atinge zonas com habitações, em particular zonas planas perto do mar que, “facilmente inundadas”.

Segundo o professor da Faculdade de Engenharia do Porto (FEUP), a área de previsão dos sismos ainda está “muito longe de ter avanços com algum significado”. Raimundo Delgado considera esse facto “compreensível”, uma vez que o fenómeno de geração dos sismos ocorre no seio da terra, a alguma profundidade, envolvendo “zonas das fracturas” que podem ter centenas de quilómetros. Por isso, para se poder fazer uma previsão, seria necessário ter uma capacidade de prever as “tensões acumuladas no interior da crostra terrestre”.

O especialista em Engenharia Sísmica lembra ainda que, para se ter uma previsão de que se vai formular um sismo, essa previsão tem de ser feita com um “elevado grau de certeza”. Isto porque “não é razoável” imaginar que se pode lançar um alerta que obrigaria as pessoas a tomarem “medidas drásticas” e o alerta não se concretizar. Aquilo que é possível, afirma Raimundo Delgado, é saber de que forma o sismo se propaga e ter capacidade de avisar com um “tempo significativo” de que vai ocorrer um tsunami.

Regulamentação em Portugal

O professor da FEUP pensa que Portugal não estaria preparado para um sismo de grande magnitude e, portanto, acredita que deviam ser feitos esforços no sentido de uma melhor preparação. Do lado da construção, Portugal tem já uma regulamentação actual em termos de segurança sísmica, pelo que todas as construções que forem feitas de acordo com a regulamentação terão um “bom comportamento” quando houver um sismo, mesmo que seja de grande intensidade.

Já quanto ao cumprimento da regulamentação poderá haver algum receio, afirma Raimundo Delgado. Também há outro aspecto que tem a ver com o facto de essas regulamentações serem “relativamente recentes”, o que significa que as construções antes desse período podem não ter o grau de segurança sísmica, hoje entendido como “adequado”.

Isso implica que seja necessário saber como está o parque construído, em particular o mais antigo, para que se possa ter uma noção do “grau de vulnerabilidade sísmica” de que dispõe. Importante é, também, procurar “reabilitar e reforçar o parque construído” que não tenha as condições adequadas, pensa o especialista.

Também a nível da protecção civil, é preciso ter um sistema preparado para que, quando ocorra um sismo, se possam tomar “medidas imediatas” no sentido de” fazer face à ocorrência” e minimizar os efeitos.

Raimundo Delgado alerta para um certo “adormecimento” que possa existir, decorrente do facto de, em Portugal, os sismos acontecerem muito raramente. Afirma ainda que, com muita probabilidade, virá a ocorrer um sismo desta intensidade no país. E isso tem de ser pensado porque se demora anos a preparar as construções e o sistema que permita responder a uma situação deste tipo.