Gonçalo Pereira foi para o Japão em finais de Fevereiro, para trabalhar no Instituto de Investigação NII, no centro de Tóquio. Na altura do sismo estava a trabalhar no 16.º andar. Regressou a Portugal a 19 de Março, devido às “notícias mais preocupantes” sobre a central de Fukushima e para “prevenir uma situação crítica”. Para Gonçalo Pereira, apesar de “estável”, a situação actual “continua preocupante”, principalmente em relação à central nuclear.

Para o português, é também preocupante a “perspectiva de problemas similares poderem acontecer noutras centrais do Japão”, embora não acredite que isso venha a suceder. Relativamente à parte sísmica, Gonçalo Pereira considera que já há uma “preparação muito grande”. Garante que, em Tóquio, não viu “um único vidro partido” e que os japoneses “possuem sistemas de prevenção sísmica impressionantes”. Em relação a tsunamis, aponta soluções como sistemas de canais, apesar de admitir que “nem sempre são aplicáveis”.

Gonçalo Pereira pensa que os japoneses devem “rever as políticas de controlo e segurança das centrais nucleares”, quer para as que estão em funcionamento quer para futuras construções. O português está convicto de que todas as centrais “deviam ser obrigadas a ter sistemas de arrefecimento passivos”, independentes de electricidade externa ou operadores humanos.

Quando fala na reconstrução do Japão, Gonçalo Pereira afirma que ninguém sabe melhor que os japoneses como fazê-la. O português pretende voltar ao Japão até ao final de Maio, caso queira retornar ao trabalho que estava a exercer, ou no futuro, em férias ou trabalho.

Exigir toda a verdade “é difícil”

Precisamente na altura em que estava a iniciar viagem para chegar ao Norte de Tóquio, Carlos Daniel, jornalista da RTP, recebeu indicação de que havia “risco de libertação de substâncias radioactivas”, ou mesmo uma eventual explosão num dos seis reactores de Fukushima. Acabou por passar apenas cinco dias no Japão.

O jornalista da RTP diz ter sentido a “frustração” de quem ficou com um “trabalho a meio”. A ideia era ir “relatar e retratar aquilo que tinha sido a consequência” do terramoto e do tsnunami e acabou por não chegar às zonas mais destruídas em função da crise do nuclear, afirma.

Carlos Daniel pensa que, em situações de crise a nível internacional, é sempre “difícil exigir que se diga toda a verdade”, sobretudo quando toda a verdade podia significar uma “situação de pânico que podia vir a ter mais gravidade” do que propriamente o que estava a acontecer.

O jornalista acredita que a política de recuperação está a ser a melhor. As informações mais recentes falam de algum “sucesso nas operações de recuperação da própria central”. O que mais o surpreendeu foi a capacidade de reacção dos japoneses. Pensa, ainda, que estão reunidas as condições para se dizer que “o pior já passou”.

É importante falar da radioactividade que chegou a Portugal, acredita Carlos Daniel, apenas para que as pessoas percebam que este tipo de situações tem, às vezes, um “risco de dimensão planetária”.

Marta Pedro, arquitecta portuguesa a viver em Tóquio, estava a trabalhar no momento do sismo. Também a arquitecta, que esteve em Portugal há poucos dias, considera que o povo japonês tem uma grande capacidade de reacção e acredita, por isso, que os esforços para recuperar o país estão a ser os mais acertados.

Japoneses em Portugal

A Embaixada do Japão em Portugal dá conta de muitos contactos de japoneses residentes em Portugal e afirma que estes vêem a situação com “muita atenção e grande preocupação”. Os portugueses contactam a Embaixada, principalmente, para saber de familiares, perceber se é seguro permanecer no Japão ou viajar para o Japão e estarem informados da situação com os níveis de radioactividade.

A Embaixada considera que o Japão está a receber as ajudas necessárias: “ajuda da comunidade internacional” de mais de 130 países, mais de 30 organizações internacionais e de 1 500 ONG e, também, “apoio financeiro” que, para já, é de cerca de 600 milhões de euros, afirma.

Para já, o governo do Japão está empenhado em, primeiramente, “dar apoio às vítimas”, “responder aos problemas na central nuclear”, e ao mesmo tempo “iniciar a fase de reconstrução da zona afectada”, informa a Embaixada.