Eram 14h46 (hora local) do dia 11 de Março, quando um sismo de magnitude 8.9 na escala de Richter atingiu o Norte do Japão. Raimundo Delgado, professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), explica que o Japão está localizado numa “zona de junção entre duas placas com uma actividade [sísmica] muito significativa”.

O que aconteceu, segundo o especialista em Engenharia Sísmica, foi que nessa placa se verificou um sismo “particularmente intenso”, com uma “ruptura em que se libertou uma maior quantidade de energia”. Para além disso, a ruptura ocorreu na zona do oceano, o que originou um “movimento relativo entre as duas faces da placa”, que acabou por provocar um tsunami com ondas a atingir os 10 metros e que deixaram um rasto de destruição.

Lídia Ferreira, especialista em Física Nuclear, explica que, quando aconteceu o terramoto, o reactor da central nuclear de Fukushima foi “fechado automaticamente”. Assim, deixou de haver energia e entrou em funcionamento um “sistema de geradores para poder manter a electricidade suficiente para produzir o arrefecimento”. Entretanto, veio o tsunami, que “acabou com esse sistema” e fez com que entrassem em funcionamento as baterias.

Durante o tempo de funcionamento das baterias, “não foi possível baixar a temperatura do sistema”. A água começou a baixar e começou a produzir-se vapor. O “material que arrecadava as barras de combustível começou a oxidar” e na “oxidação produziu hidrogénio”, afirma a professora no Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST). Os trabalhadores da central tiveram de deixar sair gás, para tentar manter a temperatura e a pressão baixa. Assim, algum material radioactivo foi “transportado para fora”, juntamente com o hidrogénio que estava a ser formado. Quando o hidrogénio teve uma “concentração suficiente”, ocorreram explosões, que estragaram grande parte do reactor.

Pedro Vaz, do Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN) resume a situação, afirmando que o tsnunami tornou inoperacional um conjunto de equipamentos que deviam funcionar em caso de emergência.

Desde logo, o “núcleo deixou de ser arrefecido”, a temperatura e a pressão subiram, mas a “radioactividade ficou contida e não houve libertação”, excepto num dos reactores. Existe uma parte onde estão armazenados os elementos de combustível gastos que, na situação, ficaram a “emitir radioactividade directamente para a atmosfera”.

Controlo da situação

As medidas de evacuação foram prontamente tomadas, lembraPedro Vaz. Alguns dias depois, começou-se também a “monitorizar a radioactividade nos alimentos e na água”, especialmente na zona próxima da central.

Lídia Ferreira afirma que está a haver um “controlo muito grande” no sentido de manter a temperatura baixa. Há um trabalho que está a ser feito para medir a radiação que vai saindo da central. A especialista afirma, ainda, que os relatórios da Comissão de Energia Atómica apontam para que a concentração que há na água, no ar e nos alimentos esteja “muito abaixo daquela que é exigida pelo regulamento japonês”. Pedro Vaz afirma que, em Tóquio, há níveis de radioactividade superiores aos normais, mas que “acabaram por não ser preocupantes do ponto de vista de saúde pública”.

Carlos Avarandas, do Centro de Fusão Nuclear, pensa também que estão a ser tomadas as medidas necessárias. Para o especialista, o que é necessário neste momento é esperar para ver até que ponto a situação “está em vias de ser controlada” ou se, pelo contrário, se está a evoluir para uma situação ainda mais perigosa para a vida humana.

O sismo de 11 de Março no Japão é já considerado um dos maiores de sempre. Estão contabilizados mais de dez mil mortos. Depois do abalo de 8.9 na escala de Richter, outros sismos de menor dimensão foram também verificados.

Esta segunda-feira, um mês depois, a terra voltou a tremer. Um sismo de 7.1 na escala de Richter foi registado no Nordeste japonês, tendo sido emitido um alerta de tsunami, entretanto levantado. A central nuclear de Fukushima chegou a ser evacuada, mas não há indicação de quaisquer danos.

Notícia actualizada às 15h27 do dia 11 de Abril de 2011.