Fotógrafo de publicidade e arquitectura, Gastão de Brito e Silva fez um pequeno desvio na carreira por se sentir “um bocado enjoado” do que fazia. Agora, fotografa “património arquitectónico abandonado”. Este verdadeiro “caçador” de ruínas expõe, no Palácio das Artes, 20 fotografias de edifícios degradados na cidade portuense, escolhidas de entre outras 300. Em jeito de anfitrião, o fotógrafo fez, ao JPN, uma breve apresentação daquilo que pode ser visto até dia 24 na exposição “Ruin’Arte”.

Na verdade, assim que se entra na sala dedicada às imagens de Gastão de Brito e Silva, a viagem às ruínas do Porto torna-se instantânea, não só por causa das incríveis fotografias mas, também, devido a alguns elementos daqueles lugares abandonados que se encontram espalhados pelo chão. Desde pedaços de ferro velho a um painel eléctrico cheio de pormenores, são vários os materiais que “transportam” o visitante para as ruínas fotografadas. O que ainda permanece no painel eléctrico é exemplificativo da aproximação à realidade que a sala mostra.

O projecto que dá nome à exposição, o “Ruin’Arte”, foi criado, de forma oficial, há três anos, por Gastão de Brito e Silva. O mote deste empreendimento visa chamar a atenção das pessoas para o valor de vários edifícios em ruínas, que poderiam ser aproveitados para uma requalificação. Assente num portefólio de fotografias e de textos históricos sobre o património abandonado, o “Ruin’Arte” “é um projecto feito para dez milhões de portugueses”, diz Gastão. Desta forma, o Porto não podia ficar de fora, daí a exposição dedicada às ruínas da cidade.

Voltando ao Palácio das Artes, e depois de meia volta ao espaço da exposição, percebe-se que os elementos espalhados pelo chão fizeram parte de alguma fábrica. Na realidade, provieram do interior da Central Eléctrica do Freixo que, a par da Central de Captação de Água da Foz do Sousa, é uma das “ruínas” com mais valor para Gastão de Brito e Silva. Habituado a que as pessoas fiquem “iludidas” com a imponência de palácios e igrejas, o fotógrafo relembrou a importância das fábricas no passado e perspectivou o sucesso que teriam no futuro como edifícios requalificados, nem que viessem a ser uma “casa de meninas”.

Mas nem só de Centrais “arruinadas” vive a exposição “Ruin’Arte”. Nas paredes, são perceptíveis fotografias de edifícios na Avenida dos Aliados e na Rua do Bonjardim com outro tipo de função e arte, que Gastão faz questão de explicar. No fundo, o que o fotógrafo pretende é acabar com o “cinzentismo” a que várias pessoas têm entregue as ruínas e colorir o porvir do património arquitectónico português.

De Lisboa ao Porto por causa de dois amores

As fotografias de ruínas no Porto, captadas por Gastão de Brito e Silva, não se justificam apenas pelo facto de o projecto “Ruin’Arte” ter adquirido uma dimensão nacional. Natural de Lisboa, o fotógrafo conta que começou a visitar a Invicta por culpa de dois amores: um deles, uma pessoa, o outro, as ruínas, capazes de o fazerem percorrer quilómetros.

Prova evidente desse amor, é a forma como Gastão recorda a primeira ruína que o apaixonou, que fotografou e que, de certa forma, marcou o início do projecto. Hoje, já com um vasto historial de imagens reunidas, Gastão de Brito e Silva é um verdadeiro “caçador” de ruínas. Para isso, necessita de ter um modus operandi, que revela ao JPN. “Estou ciente de que todos os dias faço arte com a decrepitude”, conclui o fotógrafo.