Nos arredores da cidade do Porto, esconde-se, debaixo da terra, um lugar cheio de história. Para assinalar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, este ano dedicado ao tema “Água: Cultura e Património”, a Câmara Municipal do Porto organizou visitas aos subterrâneos do Jardim de Arca D’Água. Durante séculos, o manancial de Paranhos, mais conhecido como Arca D’Água, foi um enclave vital para a cidade. Por baixo dos jardins, esconde-se um depósito com bombas, galerias e túneis de águas.

Um alçapão é a porta de entrada para este tesouro oculto. A pedido do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) e com a colaboração da empresa municipal Águas do Porto, o alçapão abriu-se esta segunda-feira. Os grupos de visitantes, com cerca de 15 elementos cada, puderam “saltar” para o subsolo e conhecer a história das condutas que, durante séculos, abasteceram a cidade do Porto.

A história do Porto esteve, desde sempre, ligada à água. São inúmeras as fontes e os lavadores públicos espalhados pela cidade. Desde 1392 que há documentação escrita sobre a existência de fontes e condutas subterrâneas, na cidade. Depois de descer as escadas descobre-se a arca: o mais célebre manancial do Porto. Trata-se de uma estrutura apoiada em arcos.

A visita, com início no jardim de Arca D’Água e fim no Lavador de Monsanto, durou pouco mais de 30 minutos. Eduardo Pacheco, das Águas do Porto, foi o guia que contou com paixão a história do subterrâneo portuense.

A aventura é o factor que mais atrai os visitantes. Raquel Couto, técnica de análises clínicas, conta que, em tempos, leu o livro “Uma Aventura no Porto” e, desde então, sempre quis conhecer os subterrâneos. Depois de contactar a Águas do Porto, Raquel e as três irmãs não quiseram perder a oportunidade de visitar o subsolo que inspirou o episódio da série juvenil.

De Arca D’Água a Coronel Pacheco

Há uma obra que permitia conduzir a água desde Arca D’Água até ao centro histórico, numa sucessão de túneis e galerias de água em direcções diferentes, com extensão total de 3,5 quilómetros. Muitos visitantes gostavam de ter feito o percurso completo até à Praça Coronel Pacheco. No entanto, actualmente, esse percurso está interdito. Ainda assim, Raquel confessa ter gostado muito da experiência e recomenda-a “a toda a gente”.

Em tempos, os subterrâneos de Arca D’Água também se chamaram “Três Fontes”, uma vez que tinha três mananciais. No solo ainda se pode ver o nascimento da água que, durante muito tempo, foi considerada a melhor da cidade. Avançando por alguns destes corredores, descobrem-se diversos depósitos, acessos e portas. Uma delas conduz ao antigo lavador público, na Rua de Monsanto.

A arca foi perdendo importância no final do século XIX, à medida que se criavam novos sistemas hidráulicos. No entanto, este manancial oculto forma uma parte importante da história subterrânea da cidade.