Como muitas doenças, a depressão deixa sempre marcas nas suas vítimas. António Veiga sofreu de depressão há cerca de 30 anos. A depressão, causa do seu divórcio, revelou-se reactiva e o doente demorou a aperceber-se que tinha um problema.

Actualmente considera-se curado e perfeitamente apto para seguir com a sua vida. “Agora estou bem. Não a 100%, porque o meu poder de encaixe está reduzido e reajo pior a más situações”, diz. É professor de português e, depois de todo o drama que viveu, sente-se inserido na sociedade e útil para a mesma. Além das aulas, Veiga pretende dar um contribuir para uma melhoria da sociedade. É no voluntariado com sem-abrigo que se sente útil e valorizado com o trabalho que faz para apoiar estas pessoas que vivem na rua.

O voluntariado surge, também, como uma forma de tratamento à depressão que sofreu. Lídia Águeda, psicóloga da Associação de Apoio a Doentes Bipolares e Depressivos fala do seu trabalho no tratamento de um depressão, dizendo que “o tratamento será sempre pluridisciplinar, o doente não é apenas submetido a fármacos, tendo também que ser inserido na sociedade. Às vezes, o mais eficaz são pequenos trabalhos de casa que dizemos ao doente para fazer, o facto de se vestir, tomar banho e sair uma vez por dia já vai ser uma vitória numa fase depressiva. Depois tentamos integrar a pessoa para melhorar a sua auto-estima e auto-confiança, de forma a melhorar as suas relações sociais”.

Com o divórcio, o professor de inglês sentiu-se em baixo. Sem apoio familiar e com demasiados pensamentos negativos na sua cabeça, decidiu ir para o Brasil. “Foi uma espécie de fuga geográfica, o que não me valeu de nada porque levava os problemas comigo” e, de volta, a situação de António Veiga não melhorou. “A minha ex-mulher disse que terminava com uns comportamentos e não acabou. Entretanto, comecei a sentir-me pior e foi nessa altura que tentei o suicídio”, conta.

Com uma depressão reactiva, fruto do ambiente que o rodeava e da falta de apoio, António Veiga começou a ser acompanhado por psiquiatras e psicólogos. “Após a tentativa de suicídio, encharcaram-me de remédios”. Anos depois, continua a frequentar a ADEB para se “sentir acompanhado”. Na instituição vê uma forma de conseguir compreender a situação que viveu.

Com uma vida humilde e modesta, António não tem sentido dificuldades com a crise económica. “O que acontece é que ninguém gosta de passar de cavalo para burro”, explica o sócio do ADEB, referindo-se às queixas que ouve pelas ruas da cidade do Porto.