Foi há pouco mais de nove anos que o Euro passou a fazer parte do quotidiano português. No entanto, à excepção de crianças e adolescentes, ainda muitos pensam em escudos. E não é apenas por uma questão de câmbio: actualmente, muitos portugueses desconfiam do Euro, preferindo voltar a usar a antiga moeda nacional.

Rui Henrique Alves, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), garante que a entrada de Portugal no Euro teve “aspectos positivos e negativos”. Uma das vantagens desta adesão prende-se, segundo o docente, com o facto de Portugal ter “continuado no pelotão da frente da integração europeia”. Claro que, com o Euro em vigor, as alterações na economia portuguesa não se fizeram esperar. “Com o Euro, podemos pagar com a mesma moeda dos outros, podemos ter alguma margem de desenvolvimento económico que ainda não tínhamos experimentado”, afirma o economista.

Moeda Única, mas com duas faces

Mas, como em tudo, também aqui há “o reverso da moeda”. No caso português, Rui Henrique Alves considera ter havido um mau ajustamento ao novo ambiente macroeconómico, com a chegada da Moeda Única. “Houve um exagero muito forte, por exemplo, no aproveitamento das baixas taxas de juro a que pudemos aceder com a adesão ao Euro”, diz. Isto levou a que “as famílias, empresas e bancos se endividassem a um nível muito alto. E, mais cedo ou mais tarde, as dívidas pagam-se”, explica.

Aquando da entrada em vigor da moeda europeia, os portugueses perceberam um aumento de preços em alguns produtos. Um café, por exemplo, deixou de custar 50 escudos para, em pouco tempo, passar a ter um preço de 50 cêntimos. “Ainda assim, foi apenas num número reduzido de produtos cujo preço duplicou. Pode haver alguma percepção, e que corresponde à realidade, de alguma subida de preços, mas isso não aconteceu na generalidade”, como afirma o docente da FEP.

“Os salários não cresceram tanto como os preços, e portanto, o poder de compra dos portugueses foi reduzido”, adianta Rui Henrique Alves. No entanto, “a culpa não foi da mudança dos preços com o Euro, e sim da evolução dos salários não corresponder, durante anos, ao desenvolvimento do país”.

A entrada do FMI em Portugal

O Fundo Monetário Internacional já esteve no país por duas vezes: em 1978 e em 1983. Nessa altura, a moeda portuguesa foi desvalorizada como forma de aumentar a competitividade da economia portuguesa. Em 2011, o FMI volta a estar em território nacional, mas “esse é um instrumento que não se poderá utilizar”. Assim, “terão de ser encontrados outros mecanismos, como, por exemplo, rever o grau de austeridade exigido, que poderá ser mais forte do que naquela altura”, como explica o economista.

E se Portugal sair do Euro?

Neste aspecto, Rui Henrique Alves não hesita. Para o docente, “uma decisão dessas seria uma catástrofe”. “Essa é uma medida que não faz sentido sequer ser equacionada”, garante. Quanto à possibilidade de Portugal ser expulso da Zona Euro, como se tem falado nos últimos meses, o economista considera que esse “seria um cenário demasiadamente mau”. Caso essa hipótese se concretizasse, “voltaríamos a ter uma moeda nacional, mas ela iria desvalorizar tanto que as condições de vida dos portugueses seriam dramáticas”. “É um cenário que eu espero que não passe pelos nossos políticos”, acrescenta Rui Henrique Alves.