Com nove metros de diâmetro, o radiotelescópio instalado em Fajão, Pampilhosa da Serra, está pronto a recolher dados sobre a radiação cósmica de fundo, considerada como um dos primeiros vestígios do “Big Bang”. A concretização da antena surgiu da iniciativa de Domingos Barbosa, investigador do Instituto de Telecomunicações da Universidade de Aveiro, e está incluída num projecto internacional liderado pelo Prémio Nobel da Física de 2006, George Smoot.

Domingos Barbosa conta que o projecto ganhou asas em meados dos anos 90, quando George Smoote iniciou, no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, uma série de experiências com “pequenas antenas para medir a emissão rádio da galáxia a várias frequências, fazendo amplos mapas do céu com os mosaicos obtidos”.

Após acabar uma pós-graduação nos Estados Unidos, Domingos Barbosa deparou-se com a necessidade de melhorar a cobertura do céu através da criação de uma antena no Hemisfério Norte. Assim, propôs Portugal como local de instalação do radiotelescópio, escolhendo um cume na freguesia de Fajão, que conta com uma interferência de fontes de rádio quase nula.

O investigador refere que a antena funciona como uma “espécie de radar do aeroporto que roda sucessivamente durante vários dias”, permitindo no final de algumas semanas a cobertura de “praticamente 45% do céu do Hemisfério Norte”.

Desta forma, o Projecto GEN (Galactic Emission Mapping), que já tinha recolhido dados na Antártida, na Califórnia, na Colômbia, em Espanha e no Brasil, pretende utilizar a antena para “fazer o mapa da galáxia em rádio” e verificar se há estruturas coerentes que identifiquem a “percentagem de sinal que chega do ‘Big Bang’ e a percentagem de sinal que chega da Via Láctea”, destaca Domingos Barbosa.

Processo de instalação atribulado

Em Portugal, Domingos Barbosa teve o apoio logístico de várias empresas e conseguiu, ainda, o apoio da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, que fez as terraplanagens.

Contudo, o investimento de 170 mil euros esteve em risco. O recinto onde está localizado o radiotelescópio foi vítima de assaltos em 2009. “Batemos em muitas portas para conseguir os recursos suficientes para as reparações”, conta Domingos Barbosa

Apoios “limitados” para o sector científico

Apesar das circunstâncias que atrasaram a inauguração do radiotelescópio, Domingos Barbosa espera conseguir, no próximo ano, ter o “Hemisfério Norte coberto e um excelente conhecimento da Via Láctea”, cuja informação será extremamente útil para a missão espacial Planck, da ESA (Agência Espacial Europeia).

Domingos Barbosa não esconde, contudo, as suas preocupações quanto à limitação de apoios existentes em Portugal para o sector científico e tecnológico. “Os apoios que existem são naturalmente limitados. Portugal tem uma massa científica que cresceu imenso, mas o bolo científico disponível não cresceu na mesma proporção dos recursos humanos e estamos em crise”, refere.

O investigador confessa que “não tem ilusões sobre o que vai acontecer”, mas acredita que a solução para Portugal se encontra no desenvolvimento de estratégias que “tirem partido de algumas valências da indústria nacional” para poder “conciliar o desenvolvimento da ciência fundamental com as preocupações legítimas do emprego”.