Apesar de os portugueses terem uma tendência maior para comprar casa, o número de casas alugadas começa a crescer. A mobilidade e flexibilidade que a sociedade actual implica e a dificuldade de contrairem empréstimos bancários pode justificar esta situação.

Domingos Silva, um dos responsáveis pelo Prédio Predial do Grupo Prime, refere que ser proprietário de um imóvel é algo que está “enraizado” na população portuguesa. O agente imobiliário explica que esta situação se deve a tradições de há já largos anos.

Eduardo Rodrigues é proprietário de um imóvel há apenas alguns meses e explica que essa era uma ambição que tinha há algum tempo. O casamento, o nascimento do primeiro filho e a oportunidade de comprar “uma casa usada a bom preço” foram os factores que levaram o jovem casal a avançar com a compra da casa. Por terem “uma situação financeira estável”, não encontraram dificuldades na aquisição de crédito à habitação. O único senão foi que tiveram que alugar o apartamento que possuiam, uma vez que “suportar duas casas ao mesmo tempo” era uma despesa que não conseguiam gerir.

Eduardo Rodrigues diz que a crise económica e financeira não interfere no mercado imobiliário. O jovem entende que o maior problema que os portugueses enfrentam não tem a ver directamente com o crédito à habitação, mas com os “créditos paralelos à casa”. “Se a pessoa compra uma casa, tem que a pagar. Se for para uma casa alugada, tem que a pagar na mesma. Ou seja, tanto paga ao senhorio, como paga ao banco”, conclui.

Domingos Silva refere que o volume de casas vendidas nas “zonas premium, como a foz” tem uma clara tendência para se manter equilibrado. O mesmo não acontece nas “zonas mais periféricas, como por exemplo, Valongo e Gondomar”, que têm um “preço muito abaixo das zonas premium“. Aí, a tendência é para diminuir, “devido ao excesso de oferta e às dificuldades que as pessoas têm em aceder aos grandes centros urbanos como o Porto”, justifica.

Incremento no arrendamento

Apesar da tendência histórica para os portugueses adquirirem casa própria, o número de casas alugadas começa a aumentar. Domingos Silva refere que o aumento do preço do dinheiro é uma das razões que justificam esta situação. Por outro lado, a “sociedade global” que caracteriza Portugal actualmente leva a que as pessoas queiram ter “mais mobilidade” e flexibilidade.

Inês Sampaio, estudante universitária, diz ao JPN que decidiu optar por alugar uma casa porque vive com o namorado, ambos trabalham em tempo parcial e não tinha possibilidades monetárias para adquirir um imóvel.

A jovem acredita que as pessoas em Portugal preferem comprar casa e a “tradição” é o motivo que adianta para o justificar. “As pessoas preferem ter uma casa própria porque os pais também têm”, refere.

Para existir uma aposta dos portugueses no arrendamento, é necessário que o mercado ofereça boas condições à população. Ana Passos, coordenadora do Gabinete de Sobreendividamento da Deco, considera que, actualmente, o mercado de arrendamento não funciona com a eficácia que seria desejável, até porque “há pouca oferta”. Esta situação faz com que as pessoas prefiram optar, muitas vezes, por comprar casa.

Mas comprar casa pode não ser a melhor opção. É necessário ter em atenção todos os “encargos de manutenção da casa, a escritura, os impostos, o pagamento do condomínio, as obras”, entre outras despesas que acabam por não ser tidas em conta no acto da compra, refere Ana Passos.