O celibato na Igreja Católica é uma questão que atravessa séculos. Contudo, este valor é visto de forma diferente por outros grupos cristãos, como é o caso da Igreja Evangélica. O debate tem-se intensificado nos últimos tempos e um grupo de teólogos [católicos] alemães publicou recentemente um manifesto em que defende o fim do celibato e de outros valores instituídos na Igreja Católica.

Sifredo Teixeira é bispo da Igreja Evangélica Metodista. Considera que o facto de não se defender o celibato permite que várias pessoas “possam participar, envolver-se e ajudar na vida da Igreja”, existindo “mais oportunidade e capacidade de resposta”. A imposição do celibato por parte da Igreja Católica é uma “questão de opção”, uma opção que a Igreja assumiu há uma série de anos e que “continua a achar válida e importante”, pensa Sifredo Teixeira. É, portanto, uma “questão de prática e de identidade”. O bispo esclarece que a Igreja Evangélica não é contra o celibato, mas considera que “devia ser uma opção e não a única opção”.

Se a Igreja Católica mudasse as regras em relação ao celibato ficaria mais próxima da Igreja Evangélica, considera Sifredo Teixeira. Além da maior proximidade, haveria também um “enriquecimento da própria partilha”. O bispo acredita na possibilidade de as Igrejas da reforma protestante terem tido influência nos teólogos alemães que vieram defender o fim destas questões. As Igrejas Evangélicas e protestantes na Europa e na Alemanha têm uma “expressão muito maior e mais partilha de experiências, que em Portugal não se sente tanto por serem minoritários”, afirma.

Luís Casimiro é professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Venceu, em 2011, um prémio no Vaticano com uma tese em que mostra o domínio de três áreas, entre as quais a teologia. Considera que o facto de a Igreja Católica defender o celibato não a desvaloriza e acha que é um “valor a preservar”. O sacerdócio é uma “vocação a tempo inteiro” e é uma “causa única”. “Na minha vida como casado, não teria condições de me dedicar a duas causas a tempo inteiro como uma vocação”, afirma.

Para Luís Casimiro, a questão do celibato é uma “questão de princípios”. O professor afirma, ainda, que o problema de falta de vocações não é um problema derivado do facto de ser imposto o celibato. Isto porque, mesmo nos países em que os sacerdotes se podem casar, se verifica a mesma falta de candidatos ao sacerdócio. Luís Casimiro vai mais longe e diz que a questão do celibato é uma “questão irredutível”, portanto “não se poderá mexer a bem da própria Igreja”.

Crise na Igreja Católica?

Luís Casimiro considera que existe crise na Igreja Católica, mas que terá “consequências muito positivas”. O professor da FLUP pensa que é necessário “purificar vários níveis”, desde os crentes até aos mais altos responsáveis. Esta crise ajudará a “clarificar e a regressar às origens”, o que é “extremamente importante”, afirma.

Já Sifredo Teixeira não diria que a Igreja Católica está em crise, mas num momento em que está a ser questionada e “tem de se questionar também a si mesma”: sobre o “modo como partilha a sua confiança em Deus” e sobre o “modo como ajuda as pessoas a acreditarem em Deus”. Esse questionamento “vai provocar renovação”, acredita o bispo da Igreja Evangélica Metodista.

Mas a Igreja Católica sente o que outras Igrejas se deparam, também, com um “mundo que está muito voltado para os interesses materiais”. “A grande maioria já começa a ser a das pessoas que têm colocado Deus de parte”, afirma.