É um Portugal agastado com a crise económica, social e até política, que vai assistir, esta quarta-feira, à final da Liga Europa. E vai assistir porque lá, na Irlanda, vão estar dois clubes compatriotas mas, também, coincidência das coincidências, dois clubes da mesma região portuguesa: o Norte.

Em declarações ao JPN, Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) diz que se trata de um “motivo de orgulho nacional [que], na presente crise, constitui uma compensação, um lenitivo para a alma de muitos portugueses”. De facto, é essa palavra, “crise”, que tem imperado em quase todas as áreas da sociedade. No futebol, não. “Isto comprova que o negócio do futebol, em Portugal, é bem gerido, em que temos empresas de média dimensão a conseguir concorrer com empresas de grande dimensão, na Europa”, afirma Rui Moreira.

No entanto, para os mais animados, cautela. A presença de FC Porto e Sp. Braga na final europeia não tem apenas consequências económicas positivas para o país. Se por país se entender “os portugueses”, aí percebe-se por que é que os “bolsos” lusos também sofrem com o sucesso desportivo e com a presença em Dublin. “Como em tudo na vida, há um impacto negativo, porque “obriga” os adeptos que lá vão a gastar dinheiro que lhes vai fazer falta noutras coisas”, sublinha Rui Moreira.

Ainda assim, o país acaba por ter uma projecção positiva e, sobretudo, o Norte de Portugal. MRS ressalva que a final nortenha vai acabar por chamar “a atenção para outros ‘Portugais’ que não a área metropolitana de Lisboa”. Rui Moreira concorda, neste aspecto, e aproveita para dizer que é normal pensar-se que “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”. Mas o presidente da Associação Comercial do Porto diz que, esse conceito, até beneficia a equipa “azul-e-branca”. “O facto de não ser consensual [no país], contribui para o [FC] Porto ‘cerrar os dentes’ (…) e lutar por esse reconhecimento”.

Braga, Porto e…Lyon

Espera-se que a final da Liga Europa marque o nascimento de um novo Norte. Pelo menos da parte do Braga, isso não parece coisa difícil já que, relembra MRS, trata-se da área metropolitana “com a mais elevada taxa de natalidade de Portugal”. Segundo o professor, a notoriedade alcançada pelo Sp. Braga fora de “portas”, vai permitir com que a cidade venha a ser “mais conhecida para efeitos turísticos (…), [que] a importância da Universidade do Minho e de outro ensino superior” seja reconhecida e que fique esclarecido “que Portugal Continental não acaba, a Norte, no Porto”.

Contudo, é mesmo do Porto que chegam elogios para a cidade ainda mais a Norte do país. “O Sp. Braga tem a vantagem de ter o nome da cidade e um estádio feito por alguém célebre, como Souto Moura, e tudo isto chama a atenção”, aponta Rui Moreira. Quem também tem o nome da cidade que habita é o FC Porto e o…Olympique Lyonnais, de França. “Para a cidade de Lyon e para aquela região, a existência do Olympique Lyonnais é fundamental em termos do seu desenvolvimento económico e da sua afirmação competitiva”, afirma Rui Moreira, ao comparar a realidade francesa com a portuense.

Para o presidente da Associação Comercial do Porto, a cidade deve muito aos êxitos do clube “azul-e-branco”, que “tem hoje um impacto comparável àquele que, há uns anos atrás, tinha o Vinho do Porto”. Produto capaz de originar grandes proveitos económicos, o famoso vinho encontra esta semelhança na final europeia de Dublin. “Para além do prémio que é atribuído aos finalistas, [o jogo] tem um impacto na valorização dos atletas”, diz Rui Moreira. O adepto do FC Porto dá um exemplo: “Avalia-se que a vitória de um país no Campeonato do Mundo de futebol, tem um efeito no PIB de cerca de 3%. É evidente que a Liga Europa não é o Campeonato do Mundo, mas existe, na mesma, um efeito positivo”.

Quer vão mais receitas para Braga, quer vão mais receitas para o Porto, a conclusão é só uma: o Norte do país vai sair beneficiado. Ainda assim, de um lado vai estar o Sp. Braga e Marcelo Rebelo de Sousa, do outro o FC Porto e Rui Moreira. No fim, neste cenário, só os patriotas ficarão contentes. Mas segundo MRS, nem esses se vão safar: “Patriotas somos todos. Os portistas e os braguistas”.