A Rede Ex-aequo – Associação de Jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros e Aimpatizantes – enviou, esta segunda-feira, a diversos membros do Estado o relatório bianual do Observatório de Educação LGBT.

O relatório de 2010 apresenta o resultado de 103 formulários, preenchidos via Internet e recebidos entre Novembro de 2008 e Dezembro de 2009, de adolescentes a partir dos 13 anos a adultos a partir dos 30 anos, na sua maioria alunos, mas também professores e funcionários de instituições de ensino básico, secundário e superior. João Valério, membro da direcção da Rede Ex-aequo, realça que, “embora a amostra não seja muito grande, é uma representação daquilo que é a realidade de muitas escolas portuguesas que, mesmo sob a tutela do estado, continuam a assistir a bullying” aos estudantes, professores e funcionários homossexuais e transexuais.

As queixas dos participantes do inquérito ao longo dos dois últimos anos mostram que “muitos alunos sofrem discriminação vinda dos seus colegas heterossexuais”, sendo que outros “sofrem-na, também, de homo ou bissexuais que adoptam posturas homofóbicas para que nenhum dos seus colegas desconfie da sua orientação sexual”.

O relatório acrescenta que “o efeito da agressão pode coibir o desenvolvimento das competências inter/intrapessoais, bem como pôr em risco a integridade física.” Das 103 pessoas que preencheram o formulário, 75 admitem que a agressão partiu do seio da comunidade escolar e 32 dizem ter sido agredidos, física ou verbalmente, por desconhecidos.

No documento pode ler-se que “a maioria das agressões são relatadas com uma ocorrência superior a cinco vezes, seguida das agressões entre duas a quatro vezes”. Dos 103 participantes, seis apresentaram denúncia das situações ocorridas e, dos que o fizeram, dois tiveram um resultado positivo. No entanto, o documento refere que “desde a criação do Observatório de Educação LGBT, muitas situações foram denunciadas”. João Valério destaca a “denúncia feita por parte de quem não vive as agressões na primeira pessoa” que tem vindo a aumentar.

Medo da discriminação obriga jovens ao isolamento

Apesar do aumento do número de denúncias, o efeito das agressões pode causar sérios danos aos visados, uma vez que, “em alguns casos, os jovens têm de lidar com os problemas sozinhos, porque não sabem se irão ser novamente discriminados pela(s) pessoa(s) a quem decidem pedir ajuda”.

O relatório do Observatório da Educação LGTB clarifica que “92 dos 103 participantes reportam a ideia de negação por parte do sistema de ensino português em incorporar conteúdos curriculares sobre a orientação sexual e a identidade ou expressão de género”, o que pode conduzir à existência de uma “orientação invisível, de uma identidade invisível e, indirectamente, também de uma forma de violência muitas vezes ténue e invisível.”

Como conclusão, o relatório atribui às agressões no espaço escolar algumas “situações de baixa auto-estima, isolamento, depressões e ideação e tentativas de suicídio, assim como para o insucesso e abandono escolar de muitos jovens LGBT”, admitindo a necessidade de “formar e informar correctamente professores, alunos e auxiliares de educação, assim como promover campanhas eficazes de diminuição da agressão no espaço escolar”.