Cerca de uma centena de pessoas juntou-se, esta quinta-feira, na entrada do Mercado do Bom Sucesso para protestar contra o projecto de requalificação do edifício, aprovado pela Direcção-Regional de Cultura do Norte (DRC-N).

A manifestação reuniu vendedores, arquitectos, agentes culturais e muitos populares, numa luta contra o que pretendem fazer do edifício do mercado. João Gigante, arquitecto e primeiro subscritor da petição pública online, lançada esta quarta-feira, “Arquitectos pela Reabilitação do Mercado do Bom Sucesso”, juntou-se ao protesto “como cidadão e como arquitecto”.

Ao JPN, João Gigante explicou que o mercado portuense “é um edifício muitíssimo importante na história da arquitectura modernista da cidade do Porto” e que, como tal, enquanto Ordem dos Arquitectos, sentem o dever de se “movimentar pela defesa do edifício mas, também, pela defesa do uso para que ele foi destinado”.

“Nós não estamos contra a reabilitação, estamos pela reabilitação, mas não nos termos em que ela foi feita”, esclarece o arquitecto, que deu a conhecer a intervenção dos vários arquitectos a todos os presentes, num microfone que estava aberto a todos aqueles que quisessem partilhar o seu parecer. Foi o que fez Fernando Sá, presidente da Associação de Feiras do Norte, que explicou o desenrolar do processo a todos os participantes, sendo muito aplaudido pelos comerciantes.

O protesto, convocado pelo Movimento Bom Sucesso Vivo!, distribuiu panfletos pelos manifestantes e afixou cartazes, clarificadores do desagrado do movimento face ao projecto de arquitectura do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR).

As intervenções na concentração foram várias, entre as quais o actor Mário Moutinho e Pedro Figueiredo, também membro do movimento, que contestaram o que está a acontecer, apoiando os vendedores, muito revoltados.

Modernizar sem estragar o património arquitectónico

José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda (BE), esteve no protesto, afirmando que estão “solidários com esta manifestação, porque o projecto põe em causa a natureza arquitectónica do edifício e a natureza funcional do mercado enquanto mercado de frescos, que é a sua função primordial”, disse ao JPN. O BE considera que o mercado deve ser reabilitado e modernizado, “mas é importante salvaguardar o património arquitectónico”, remata.

Manuel Pizarro, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, também marcou presença no protesto e explicou ao JPN a posição do PS face à situação do Mercado do Bom Sucesso, que começou por apelidar de “complexa”.

“Nós não somos contra uma intervenção no Mercado do Bom Sucesso, é necessário adaptar este mercado ao mundo muito diverso em que está inserido”, explica Manuel Pizarro. No entanto, frisa que, com “o projecto que foi apresentado, está em causa a destruição do mercado como o conhecemos”. Segundo o secretário de Estado da Saúde, o importante é conjugar modernização com preservação do património, que não é o que o projecto da Mercado Urbano pretende fazer. “Não há reaqualificação nenhuma. O mercado de frescos vai desaparecer”, remata, afirmando que o que falta é um “debate público sobre o tema”.

No final, Paula Sequeiros, do movimento Mercado Bom Sucesso Vivo! e impulsionadora da manifestação, fez um balanço positivo, tendo em conta que foi a primeira manifestação pública em torno do mercado. “Vamos continuar, esperamos que isto sirva para mostrar que há cidadãos preocupados com o património da cidade”, frisou Paula.

O movimento admite que Governo e, até, Tribunal são os próximos passos da luta pelo mercado portuense. A contestação, que decorreu de forma pacífica, promete não baixar os braços face ao anúncio de encerramento, a 25 de Maio.