A magia da televisão, dos palcos e do cinema continua a fascinar os mais novos. É cada vez mais comum os espectáculos contarem com a presença assídua de um elenco infantil. Mas continua a pôr-se em causa questões como o trabalho infantil e a sobrecarga de horários. O JPN foi conhecer, junto dos pais, como se continua a assegurar a infância das crianças de espectáculo.

Beatriz Leonardo, Beatriz Monteiro e Maria Carolina Pacheco são três exemplos de que é possível conciliar o mundo da representação e da publicidade com o crescimento natural de uma criança. Nos três casos, há uma preocupação por parte dos pais em assegurar o rendimento escolar e o bem-estar das filhas. “Os estudos estão à frente de tudo”, assegura Paula, mãe de Beatriz Leonardo. “O que ela tem de fazer é estudar. Isso é fundamental e é uma prioridade”, valoriza Catarina, mãe de Beatriz Monteiro, uma opinião que a mãe de Maria Carolina, Beatriz, subscreve. “Primeiro está a escola”, defende.

Desde o início que os pais esclarecem com as agências que as gravações não podem coincidir com o horário da escola. “A primeira reunião com a produção é sempre feita no sentido de assegurar que, para ambos, a escola está sempre em primeiro lugar”, esclarece a True-Sparkle, agência das três crianças em questão. Gravam cerca de duas a três horas por dia e não mais de duas vezes por semana. Os pais encaram as gravações como “uma actividade extra-curricular, como a natação ou o ballet”, compara a mãe da Maria Carolina.

Teresa Mendes, psicóloga clínica infantil, mostra-se reticente quanto a avaliar a situação como uma actividade de lazer “porque há uma grande responsabilidade e uma grande carga para a criança”. Mesmo assim, Teresa Mendes refere que “só pode ter consequências negativas se prejudicar a aprendizagem escolar, o relacionamento familiar ou a relação com os seus pares”.

A mãe de Beatriz Leonardo considera que, hoje em dia, “há uma preocupação maior e as pessoas estão mais atentas”, apesar de já ter ouvido “depoimentos de pais sobre a sobrecarga dos horários”. As responsabilidades que a actividade exige podem condicionar um crescimento livre de preocupações, mas a True Sparkle defende que “todas as actividades, quando somos crianças, podem ou não ser nocivas para o nosso futuro”, insistindo que “tem tudo que ver como são acompanhadas”.

A agência mostra-se indignada por tanto se questionar as crianças do mundo do espectáculo. “Ninguém questiona as do desporto”, onde passam três horas por dia a praticar e, se a mesma criança passar o mesmo tempo ou menos a representar, “já é visto como um potencial crescimento corrumpido”. Paula garante que “tem sido saudável até agora” e Catarina acrescenta que a representação fez a Beatriz “crescer muito a todos os níveis”. “Tem corrido tudo normalmente”, certifica a mãe da Maria Carolina.

Por conselho da mãe de Beatriz Monteiro, a solução passa pelos pais “explicarem aos filhos que não são vedetas”. Uma filosofia que as restantes mães fazem questão de seguir. “Estamos sempre a apelar à humildade dela [Beatriz Leonardo], revela Paula. “Alertamo-la [Maria Carolina] para não se envaidecer”, confirma a mãe Beatriz.

Retratos do elenco infantil português

“Floribella” foi a rampa de lançamento para Beatriz Monteiro [PDF] e Beatriz Leonardo [PDF], em 2006 e, para Maria Carolina [PDF], foi a novela da TVI “Dei-te Quase Tudo”, em 2005, que a levou até ao mundo do espectáculo.

“Tudo começou como uma brincadeira”, revela a mãe de Beatriz Leonardo. Começou por uma sessão de fotografias, mas logo a chamaram para o primeiro trabalho. A mãe não esconde que “foi por vontade de ambas as partes”, mas afirma que “só queremos que ela essencialmente seja feliz”, pelo que “ela não faz nada frustrada” e há até mesmo “trabalhos pontuais em que ela não se sente segura e não faz”, revela. Paula não considera a filha famosa e alerta Beatriz que, “em Portugal, é complicado sobreviver só da representação”. Mas vai sempre “apoiá-la incondicionalmente”, confessa.

O caminho de Maria Carolina também começou por brincadeira mas, desde logo, surgiram oportunidades. Para a mãe, esta experiência só trouxe aspectos positivos. “Com cinco anos, ela não sabia ler e tinha de decorar os textos. Teve muita força de vontade e quis muito saber”, conta a mãe Beatriz. “Ajudou-a a desenvolver nesse aspecto”, reforça a mãe, que não hesita em afirmar que “hoje voltaria a fazer o mesmo”. Maria Carolina quer continuar com a representação mas gosta, igualmente, da área de Engenharia.

“Aos quatro anos pediu por favor para sair do ballet e ir para uma escola de teatro”, revela a mãe de Beatriz Monteiro. Assim foi e, com cinco anos, fez um workshop de teatro, cinema e televisão de um ano, que a preparou para os projectos seguintes. Na escola, a participação de Beatriz na televisão não foi vista com bons olhos e chegou mesmo “a ser recriminada por colegas e professores”, garante a mãe Catarina. “São coisas que a fazem crescer”, considera. Ser actriz ou professora de Matemática continua a ser um dilema. “O que ela escolher nós estamos cá para apoiar”, conclui.