Portugal não é o exemplo do paraíso dos surfistas. O clima e o mar nem sempre são os que mais atraem os amantes das ondas. Por isso, sempre que podem, os dedicados praticantes de surf não perdem a oportunidade de percorrer o Mundo em busca da onda perfeita.

Mesmo assim, as praias portuguesas nao ficam desertas de surfistas e estes atletas conhecem “de cor” os seus locais preferidos. A surfista portuense Mariana Macedo admite que já percorreu “o país todo para surfar”. “Gosto de quase todas as praias da Ericeira, Peniche, Santa Cruz”, enumera. Já o fotojornalista Pedro Trindade, que tem o surf como hobby, prefere “Espinho, Leça, Maceda, Cortegaça”.

O Surf está na moda, mas …

Francisco Morgado, da Associação Nacional de Surfistas, vê com bons olhos o panorama do surf em Portugal, devido a um aumento no investimento e a uma “notória tendência de crescimento da massa crítica”.

Mariana Macedo considera que “o surf em Portugal está a evoluir imenso. Penso que seja o segundo desporto mais praticado, a seguir ao futebol”. E a surfista, que é uma referência no surf nacional, espera que “passe a ser o primeiro. Mas vai ser muito dificil”, admite. Mesmo assim, para Mariana Macedo, “cada vez mais, os patrocínios querem apostar no surf porque é um desporto que está completamente na moda”.

Segundo Francisco Morgado, “o investimento está finalmente a entrar em força”. “É interessante ver, no meio da crise e de tanta conversa à volta da economia do país, uma indústria e um desporto com níveis de saúde não tão negativos quanto outros exemplos vizinhos”, refere.

Mas opinião contrária tem Pedro Trindade, que afirma que “não dão quase nenhuma atenção a este desporto”. O surfista sugere que o facto de o surf ser um desporto pouco divulgado “pode dever-se à falta de dinheiro” que gira à sua volta. “Se um desporto não gerar dinheiro suficiente para criar patrocínios, eventos e chamar jornais e televisões, as pessoas não querem saber” e o fotojornalista não crê que “invistam no surf, ou que façam grandes campeonatos nem grandes patrocínios”.

Pedro Trindade admite que actualmente o surf recebe mais atenção, “talvez por causa do Tiago Pires estar no mundial”. Mas acredita que, “quando ele sair, talvez se deixe de falar. Não há nenhum português, não interessa”, afirma. E, por isso, vê “o futuro do surf um pouco igual ao que está”. “Há os campeonatos, os melhores conseguem ganhar lá fora, outros que só fazem para se divertir, mas a nível geral não vai mudar muito mais”. Para o fotojornalista, o surf vai continuar “a ser aquele desporto que o pessoal faz, mas ao qual ninguém liga muito”.

Mesmo assim, os jovens surfistas portugueses não deixam de sonhar. João, que começou a surfar em 2010, quer ser profissional. “Sempre foi um sonho meu”, revela o jovem, admitindo que “não vai ser fácil”. Ainda assim, quer “entrar em competições e prosseguir no surf”. O objectivo é seguir os passos de surfistas como Tiago Pires. Francisco Morgado lembra que “esta é a primeira geração com um trabalho base de treino consistente” e considera que Portugal tem “finalmente uma geração de atletas promissores para seguir o caminho trilhado por Tiago Pires, o melhor surfista português de todos os tempos”.

Uma prancha feminina no meio de homens

E para uma rapariga que pratica surf pode ser ainda mais complicado viver deste desporto. As surfistas raparigas não são tantas como os surfistas rapazes, ainda que seja cada vez maior o número de praticantes do sexo feminino. E Portugal não é excepção neste cenário.

Mariana Macedo, do Porto, explica que, quando começou “só existiam mais duas ou três surfistas raparigas”. “Estava sempre dentro de água só com rapazes e, por vezes, sentia que me desvalorizavam um pouco por ser rapariga”, confessa. Mas, com o passar do tempo, Mariana sente isso “cada vez menos”. “Como comecei a surfar melhor, já me consigo impor mais”, salienta.

Por ter vivido esta situação, e para que nenhuma rapariga desista do sonho de ser surfista, Mariana Macedo afirma que “sempre que uma rapariga está a surfar” tenta “ajudá-la e motivá-la”, chegando, por isso, a ser uma inspiração para muitas atletas deste desporto. E Mariana aconselha: “é importante que as futuras surfistas continuem a lutar e que passem mais horas dentro de água, mesmo no Inverno“.