“Nós somos gagos, que tal fazer um jantar para gagos?”. Foi assim que surgiu a ideia para criar uma entidade de apoio à gaguez em terras lusitanas, segundo Cesário Neves. Neste jantar, numa zona pequena do Baixo Mondego, “juntaram-se 50 pessoas”. No ano seguinte, juntaram-se a eles terapeutas da fala e comunicação social. A iniciativa estava a chamar a atenção.

A Associação Portuguesa de Gagos (APG) nasceu em 2005 devido ao esforço de um grupo de gagos. O objectivo inicial era conhecer diversas “formas de gaguejar”, fazendo “convívios para a partilha de dificuldades”. “Criou-se ali uma força entre gagos que permitiu a organização da associação”, explica Cesário Neves, presidente da APG.

“A associação criou-se numa brincadeira só que, depois, adquiriu uma dimensão maior quando começámos a receber pedidos de ajuda”, conta o dirigente. Além dos “convívios de gagos que permitem a aceitação da dificuldade”, a APG organiza todos os anos, as Jornadas da Gaguez, em Coimbra, reunindo “gagos, terapeutas e estudantes”. O objectivo é ajudar. “Também encaminhamos os gagos, dependendo do tipo de gaguez e do local de residência, para terapeutas da fala mais adequados”, explica o presidente.

Os convívios são, segundo Cesário Neves, uma “entreajuda”, porque “se vê outras pessoas que têm a mesma dificuldade a falar sem medo e isso dá ânimo e vontade de fazer o mesmo”.

Quanto aos pedidos de ajuda, o presidente da associação refere que tem havido um aumento nos últimos tempos, “muito devido às Jornadas” e ao filme “O Discurso do Rei”. “Nestes seis anos de existência da associação, já se falou mais de gaguez do que nos últimos 20 anos”, considera. Isto mostra que “as pessoas se estão a abrir e a perder o medo de pedir ajuda”, acrescenta o dirigente. No entanto, “continua a haver constrangimento. Ainda há mentalidades paradas o tempo”, alerta Cesário Neves.

A APG não tem qualquer apoio estatal e só “sobrevive através de pessoas da direcção que investem o seu tempo de trabalho e dinheiro do seu bolso”. “Vamos vivendo com o dinheiro dos eventos que vamos fazendo, como as Jornadas. Só assim conseguimos alguns fundos para outras actividades de divulgação de informação” sobre esta dificuldade, já que um dos objectivos da associação é, precisamente, “informar a sociedade do fenómeno da gaguez”, explica o presidente.