“A primeira característica do vício, adição ou dependência é a perda de controlo”, afirma Pedro Hubert, especialista em adições sem substância. A dependência tem que se notar durante “seis meses a um ano” e a “obsessão e compulsão” são outros dos sinais de alarme, explica.

O trabalhador compulsivo é “um cidadão que deixa de viver todos os outros pilares da sua existência, como os amigos, a família, as relações amorosas e os hobbies“, para passar a investir “apenas e só no perfil do trabalho”, esclarece Victor Cláudio, coordenador da área de Psicologia Clínica do Instituto Superior Psicologia Aplicada (ISPA).

O ciclo de trabalho do workaholic é vicioso, tal como o próprio nome indica. O sujeito tem “a necessidade contínua de se localizar num objecto de adição e canalizar toda a sua existência e toda a sua energia para esse objecto”.

Profissionais de êxito na maior parte dos casos, os workaholic, “investindo completamente no trabalho, vão ser recompensados socialmente e isso vai reforçar a própria adição”, impedindo o investimento noutras áreas, elucida Victor Cláudio. “O sujeito é canalizado para algo que consegue fazer, que é valorizado em fazer e que, para ele, se coloca como objecto único”, frisa.

Os amigos, a família, as relações amorosas e os hobbies são pilares pouco firmes na vida de um trabalhador compulsivo. O workaholic, “fora do trabalho, não consegue fazer mais nada”, afirma Victor Cláudio. “Faz um controlo do seu processo de investimento emocional noutras áreas e tem dificuldades com a própria relação com o processo emocional”.

Estima-se que, actualmente, o número de trabalhadores compulsivos tenha aumentado. As exigências laborais favorecem a adição ao trabalho excessivo. Além disso, com o advento das novas tecnologias, mesmo em período de férias, é difícil o sujeito “desligar-se” do trabalho. A facilidade de transportar um portátil e ligá-lo à Internet impede o adicto de deixar o trabalho e quebrar a rotina.

“Hoje em dia, o Facebook é um instrumento de trabalho quase indispensável, os sites têm que estar sempre a ser actualizados e a informação está disponível na Internet”, diz Pedro Hubert. É depois do horário do trabalho que o sujeito pratica este tipo de actividades, que se podem prolongar durante horas. “Sem dúvida que as novas tecnologias reforçam muito esta adição”, remata.

O vício pode ser combatido com trabalho psico-terapêutico

“O primeiro passo é a pessoa admitir que perdeu o controlo e que está a trocar as prioridades”. É indispensável “aceitar que tem o problema”, ilustra Pedro Hubert. Isto para tentar, “do ponto de vista estrutural”, corrigir a sua atitude, já que “a adição ao trabalho é um sintoma em si, e não a origem”, acrescenta Victor Cláudio, do ISPA.

“Se, por algum motivo, o trabalho fraqueja, toda a vida do sujeito vai ruir”. É neste contexto que se insere o “trabalho psico-terapêutico”. Nessas consultas, “o sujeito vai reforçar os outros pilares da sua existência como os amigos, a família, as relações amorosas e os hobbies, para lhe permitir ter um processo mais adaptativo do seu percurso de vida”, finaliza Victor Cláudio. Pedro Hubert salienta a importância do apoio familiar neste processo e explica que “é preciso traçar linhas orientadoras muito claras” e aprender a combater algumas carências, essencialmente ao nível das emoções, consideradas o “problema base” da adição.