O acto eleitoral é “uma prática importante”, uma vez que define um momento decisivo no modelo de democracia representativa. É o momento, de acordo com José Manuel Leite Viegas, investigador em Sociologia Política, “em que escolhemos quem nos vai representar, quem nos vai governar, quem vai fazer as leis a que vamos obedecer e, ainda, quem poderá controlar, em nosso nome, o poder executivo”.

António Guimarães, advogado, exerce o seu direito de voto, uma vez que o considera “a expressão máxima da democracia”. A depressão económica afecta as instituições democráticas que “se apresentam também em crise”, daí ser importante acreditar que o voto tem “um papel fundamental para eleger os representantes”, afirma. Relativamente à abstenção, António Guimarães considera que deve ser “fortemente combatida”.

Já José Miguel Costa, economista, não tem a mesma opinião e vota em branco quando se dirige às urnas. “No boletim não vai estar ninguém que mereça o voto”, considera. “Uns porque não me identifico de todo. Outros, porque não me inspiram qualquer confiança”, diz. O economista acredita que “a política morreu” e sobraram os interesses. “Acho que votar é não só um direito mas, também, um dever”. “Vou lá dar a minha opinião deixando o boletim em branco”, remata. Para José Miguel Costa, “os abstencionistas perdem alguma autoridade moral para criticar os que foram eleitos sem o seu voto”.

António Costa Pinto refere que é uma “incógnita” se o voto em branco ou a abstenção vão
ser decisivos nas próximas eleições. “O protesto, muitas vezes, não tem expressão eleitoral
porque Portugal tem uma alta taxa de abstenção”, explica o politólogo. Já o voto em branco,
que o politólogo diz ser um voto “mais consciente de protesto e de não identificação
com os partidos” ainda é “relativamente pequeno” em Portugal

Ainda assim há quem não vote. Os motivos? Essencialmente, o descrédito. “Deixei de acreditar na classe política. A maioria coloca os interesses individuais à frente dos interesses do país esquecendo-se que quem sustenta o Estado são os contribuintes”, diz A. (nome fictício), licenciada em Direito. Apesar de acreditar que “toda a gente é livre” de dar opinião, A. acrescenta que os contribuintes que não votam têm, obviamente, “menos legitimidade para contestar o resultado de umas eleições”.