Eduardo Souto Moura, que recentemente viu o seu trabalho reconhecido com o Prémio Pritzker 2011, esteve presente na inauguração da exposição “Concursos”, uma recolecção do processo criativo por detrás de mais de 50 projectos de concurso em que o arquitecto participou.

Depois de uma breve apresentação da exposição, que estará patente até 9 de Setembro na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), o arquitecto, em declarações aos jornalistas, confessou estar “honradíssimo” com o reconhecimento que tem recebido nos últimos tempos, bem como com a oportunidade de expôr o “trabalho escondido” de diversos projectos que “nunca viram a luz do dia”, perdidos no seu escritório.

O que mais atrai o arquitecto nesta exposição é o carácter “pedagógico” da mesma, a possibilidade de poder mostrar aos alunos o processo que é necessário na construção de um projecto. Com isto, espera, “os alunos podem perceber o método de trabalho” que dá origem às grandes obras.

Um dos projectos expostos mais importantes é, para Souto Moura, a Casa das Artes, que “agora está abandonada”, “entra água lá dentro”. “É importante porque ainda nem era arquitecto e fiquei inchadíssimo porque ganhei aos meus professores”, confessa. “Isso permitiu-me ter alguma independência e foi a porta para abrir o meu próprio escritório”, explica. Por isso mesmo, diz ter pena de ver o projecto abandonado. “Não há dinheiro. Fala-se que vai ser a Cinemateca, mas agora consta que o Ministério da Cultura vai desaparecer, por isso vai ser a Cinemateca por um canudo”, graceja.

“Não me sinto no auge”

O reconhecimento do Prémio Pritzker 2011, essa não lhe trouxe, para já, grandes vantagens. “Não me sinto no auge. Sinto-me preocupado, pois queria continuar a trabalhar”, esclarece. “Fico feliz com estas iniciativas, mas os problemas não se resolvem com estas coisas”, diz. “Os grandes escritórios passaram a médios e despediram metade das pessoas. Não há encomendas, nem públicas, nem privadas”, explica. E, diz, se “não há dinheiro, não há arquitectura”.

A juntar à crise económica que afecta o país, há sempre a crise da própria arquitectura. O grande problema está em “redefinir uma linguagem da arquitectura para uma época e uma cultura que é muito difícil de entender”. “Esta época é muito eclética e é muito difícil decifrá-la. Foge-me pelos dedos, é muito rápida”, reflecte.

E como “não há fome que não dê fartura”, diz, quando a exposição itinerante for para outras paragens em Setembro, estreará outra, desta feita na Casa da Música e sobre “projectos já construídos”. Mesmo assim, não quer receber créditos por nenhuma das exposição, pois diz nada ter feito e não ter tempo para isso. “O valor da exposição é dos meus colaboradores. Eles é que são os mentores, eu sou só o veículo sólido”, garante.